Tamo Junto Filme

Tamo Junto | Seria hilário se tive alguma graça


Logo em seus primeiros minutos, Tamo Junto se entrega a uma sequência retratando um casal abusivo física e emocionalmente, mas conduzida como se a situação fosse divertidíssima. Ah, é que é a mulher quem está batendo no homem! Ele apanhou feio de… uma mulher! … é… seria hilário se tivesse graça!

Sabe o que é engraçado mesmo? O fato de que qualquer notícia sobre alguma ocorrência misógina atrair uma chuva de homens dizendo que mulheres também podem ser violentas e/ou abusivas (o que certamente é verdade, mesmo que isso aconteça em proporção consideravelmente menor). Entretanto, eles mesmos são os primeiros a fazer pouco caso de um homem sofrendo uma situação dessas.

Mas o diretor Matheus Souza e os roteiristas Bruno Bloch e Pedro Cadore certamente não parecem ter muita consideração por seu próprio gênero. Aqui, os homens são completamente imaturos e incompetentes, mesmo beirando os trinta. Felipe (Leandro Soares) terminou com sua namorada de longa data (Fernanda Souza) para poder “curtir a vida de solteiro”, mas seus amigos logo mostram a besteira que ele fez, pois agora quem vai apresentar mulheres para eles? Fábio Porchat aparece para uma ponta insuportável como um homem que detesta a namorada, mas que continua com ela pela garantia de sexo fácil e constante.

Por que namoradas servem apenas para isso e para serem obstáculos à felicidade e a realização masculina. Entretanto, além de comédia misógina, Tamo Junto também quer ser comédia romântica. O filme até transita bem por esses dois tons distintos mas, no caminho, esquece-se de dar qualquer profundidade a seus personagens. Isso fica particularmente evidente, é claro, na principal personagem feminina: Julia (Sophie Charlotte), a amiga do tempo de colégio por quem Felipe é secretamente apaixonado há anos. Ela está prestes a se casar, mas o reencontro dos dois faz com que ela repense sua relação com o noivo, alguém com quem ela não tem compatibilidade alguma.

Fechando o trio de protagonistas, temos o personagem do próprio diretor: Paulo Ricardo, um nerd saído direto de uma série de televisão dos anos 80, preso aos estereótipos que os nerds atuais abandonaram há tempo. Sem competência social ou experiência sexual alguma, Paulo é construído por Matheus Souza como alguém repleto de tiques que existem apenas para deixar o personagem mais “esquisito”. Tudo isso sem carisma algum para imprimir qualquer dimensão a ele.

Tamo Juntos Crítica

Assim, a principal função de Paulo Ricardo é servir de contraponto à sem-gracice de Felipe, e o ator/diretor faz isso através de uma série de referências metalinguísticas e a outras instâncias da cultura pop. Algumas são moderadamente divertidas, mesmo que óbvias (A vida nada mais é do que um filme de duração esticada. É como se todo mundo fosse dirigido pelo Peter Jackson!”), enquanto outros momentos flertam com o nonsense de maneira que sugere potencial. Entretanto, na maioria esmagadora do tempo, Souza dispara convenções cinematográficas sem interesse algum em ir mais fundo nessa conversa e, assim, apenas faz repeti-las mais adiante. Já como diretor, sua única característica marcante é a insistência em mostrar planos do elenco em close umas cinco vezes a cada diálogo, sem necessidade narrativa ou estética alguma para isso.

Tamo Junto tenta reverter algumas de suas teses, mas faz isso de forma tão superficial que, no final, não há substância alguma. Sophie Charlotte é carismática, mas sua personagem surge e sai de cena de acordo com as necessidades do roteiro, existindo apenas em função dos sentimentos de Felipe por ela. Matheus Souza parece orgulhoso do fato de ter dado um final feliz para Paulo Ricardo sem exigir que o personagem abandonasse suas “esquisitices”, mas como o jovem é um clichê ambulante, isso serve apenas para ilustrar o quão patético um personagem masculino pode ser e, mesmo assim, conquistar tudo o que sempre quis. Enquanto isso, Charlotte, linda e com apenas 27 anos, é obrigada a mostrar-se preocupadíssima por estar ficando velha.

A arte não existe em um vácuo e, portanto, é preciso considerar de que forma uma obra internaliza e reproduz os preconceitos e limitações da vida real (e, consequentemente, os reforça). Afinal, com um roteiro tão fraco e personagens tão rasos quanto os de Tamo Junto, fica difícil envolver-se o suficiente para perdoar quaisquer problemas, pois o longa não faz mais do que arrancar uma ou outra risadinha ao longo de seus 100 minutos de duração.


Tamo Junto (Brasil, 2016), escrito por Bruno Bloch e Pedro Cadore, dirigido por Matheus Souza, com Leandro Soares, Matheus Souza, Sophie Charlotte, Fernanda Souza, Fábio Porchat, Alice Wegmann, Rafael Queiroga e Antonio Pedro Tabet.


Trailer – Tamo Junto

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