[dropcap]T[/dropcap]e Peguei! mistura seu senso de humor leve com sequências de comédia física que jamais são tão vibrantes quanto o filme parece acreditar que são. Enquanto isso, o elenco carismático também dá espaço para personagens e situações mal aproveitadas. O resultado é uma comédia irregular, mas, ao menos, divertida.
Baseado em uma história real — algo do qual o filme mostra-se imensamente orgulhoso —, Te Peguei! acompanha um grupo de amigos que, agora na faixa dos 40, mantém a tradição da infância de brincarem de uma elaborada e extremamente competitiva partida de pega-pega todos os anos durante o mês de maio. Mesmo morando em estados diferentes, Hogan (Ed Helms), Bob (Jon Hamm), Chilli (Jake Johnson), Kevin (Hannibal Buress) e Jerry (Jeremy Renner) deixam suas rotinas de lado durante esse período para se reencontrar e relembrar os bons e velhos tempos. Como declara a esposa de Hogan, Anna (Isla Fisher), “algumas pessoas tiram férias em cruzeiros — nós fazemos isto”. Mas Jerry está prestes a se casar e a aposentar-se do jogo invicto, algo que Hogan se recusa a deixar acontecer.
O filme começa com Hogan — um veterinário bem-sucedido — candidatando-se a uma vaga de zelador em uma grande companhia. O motivo? Ele quer infiltrar-se na empresa comandada por Bob e “pegá-lo” desprevenido. Isso acontece durante uma entrevista do executivo para Rebecca (Annabelle Wallis), repórter do Wall Street Journal. Ela está ali para averiguar acusações de fraude contra a empresa, mas rapidamente abandona a pauta quando percebe que a “verdadeira história” está na brincadeira de décadas dos amigos.
E temos aqui também a primeira forma com que o diretor Jeff Tomsic tenta trazer alguma diversidade ao grupo original, formado por cinco homens brancos e cuja história foi contada por um jornalista, Russell Adam. Entretanto, Rebecca é uma personagem completamente desperdiçada; há até mesmo uma cena em que eles questionam uma bartender que inicialmente parece construída justamente para a jornalista ter algo para fazer, mas ela logo deixa outros personagens tomarem as rédeas.
Outra figura feminina incluída na história é Anna, esposa de Hogan que adora o jogo, mas que não pode participar porque, quando eles fizeram as regras ainda crianças, decidiram que meninas não eram permitidas. Mesmo assim, ela é competitiva e agressiva enquanto ajuda o marido na brincadeira, e os dois formam uma verdadeira parceria. E, se o grupo na vida real era formado apenas por homens brancos, aqui eles ganham a companhia de Hannibal Buress, que tem algumas das melhores falas do longa, mas que não deixa de encaixar-se na convenção do “token black friend” — (um único) personagem negro incluído justamente com a intenção de não deixar a produção ser totalmente caucasiana.
As dinâmicas entre os personagens funcionam moderadamente, e o elenco consegue estabelecer as personalidades — e o estilo de jogo — de cada um com carisma. Além de Burgess, Jon Hamm também destaca-se com o jeito levemente ingênuo de seu personagem. Enquanto isso, as artimanhas de Jeremy Renner que o levaram a tornar-se o rei da brincadeira logo mostram-se repetitivas. Isso, aliás, vale para as sequências de “ação” como um todo; com exceção de uma perseguição em uma floresta que remete a O Predador. Cenas quem começam com uma premissa divertida, mas que logo estende-se além do necessário. Isso também faz com que o ritmo do longa seja bastante inconsistente.
Conforme maio vai chegando ao fim e o grupo mostra-se cada vez mais desesperado para destronar Jerry, o humor — bobo, mas inofensivo — do longa começa a ser intercalado por algumas piadas mais pesadas. De início, o próprio roteiro de Rob McKittrick e Mark Steilen reconhece isso, mas os diálogos logo começam a martelar essas piadas (especialmente uma envolvendo aborto e outra indiscutivelmente homofóbica); o resultado não é nem tanto algo de mal gosto, mas, novamente, repetitivo e sem graça. Em seu terceiro ato, Tomsic também aumenta o teor emocional da obra, o que rende algumas conversas forçadas entre os personagens.
Assim, Te Peguei! consegue arrancar algumas boas risadas e envolver graças a seu elenco carismático e às dinâmicas entre os personagens, que funcionam na maior parte do tempo. Entretanto, a leveza do senso de humor não consegue se sustentar ao longo de toda a produção, o que realça a falta de dinamismo das sequências do jogo e os altos e baixos do roteiro.
“Tag” (EUA, 2018), escrito por Rob McKittrick e Mark Steilen a partir do artigo de Russell Adam, dirigido por Jeff Tomsic, com Ed Helms, Jon Hamm, Hannibal Buress, Jake Johnson, Isla Fisher, Annabelle Wallis, Jeremy Renner, Nora Dunn, Leslie Bibb e Rashida Jones.