Crítica do filme The Lodge.

The Lodge | Um caminho sem volta


Parece que algo está fora do lugar em The Lodge, terror dirigido por Severin Fiala e Veronica Franz. Como se algo estive errado, torto. Um incomodo que não para de crescer e faz com que o filme seja uma experiência completamente incômoda.

Fiala e Franz já tinham feito algo parecido em Boa Noite, Mamãe, filme anterior da dupla e que também parece apostar nessa ideia transtornada e desconfortável. Como se seus personagens seguissem em um caminho onde a conclusão vai ficando mais e mais óbvia, assim como a impossibilidade de “pular fora desse barco” vai ficando cada vez mais impossível. O roteiro escrito pelos dois em parceria com Sergio Casci te leva em uma viagem onde você torce para não estar adivinhando o destino, mesmo com ele ficando claro a cada passo.

A esquisitice do filme começa no visual, uma câmera que parece perdida dentro da cena, perto demais do teto, aberta além do esperado e permanecendo olhando mais para a cena do que deveria. Quase como se completasse as composições com um vazio que não quer ser explicado.

Em um começo lento, Alicia Silverstone faz uma participação especial carregada de dor e dúvidas. Entender suas ações não é a intenção do roteiro, apenas deixar aquela impressão de algo aberto, como uma ferida. O resultado disso é seu casal de filhos (Jaeden Martell e Lia McHugh) tendo que passar o feriado de Natal com o pai e a nova esposa (Richard Armitage e Riley Keough) em uma cabana no meio do mais absoluto nada.

O terror de The Lodge começa tanto com um passado sinistro da madrasta, quanto com dois garotos tendo que passar alguns dias com ela, sem o pai. Aos poucos a trama enfia os três personagens em uma espiral de loucura onde nada parece ser aquilo que é. Talvez não seja. Depois pode ser. Não é. Mas quando você vê, já não tem volta e o espectador está às voltas com um filme de terror que não se desprende dessa ideia de que você gostaria de parar de vê-lo enquanto é tempo e nem tudo é uma tragédia.

Talvez essa vontade de enganar o público e tentar responder demais alguns pontos do roteiro atrapalhem o ritmo do segundo ato, já que ele ruma para uma opção tão absurda e fora de contexto que parecer ser impossível chegar nesse lugar. Não chega, mas surpreende a todos com uma opção ainda mais inquietante.

Essa opção ainda permite que Grace de Riley Keough se torne a âncora emocional de toda história. Acompanha-la nessa derrocada mental e física, de modo tão próximo, cru e cruel faz com que o espectador se identifique demais com a personagem, e o resultado é ainda mais visceral diante dessa empatia.

Por outro lado, Fiala e Franz parecem repetir a intenção de arrancar da inocência de sua dupla de protagonistas infantis uma maldade poderosa e fria. É excruciante ver onde tudo aquilo vai chegar através das opções e escolhas. Assim como em seu filme anterior, o caminho fica longe demais para voltar e a única alternativa é perdoar aquelas ações, mesmo diante da ferocidade da conclusão.

A dupla de diretores parece gostar dessa ideia de colocar à prova a ideia de uma pureza que não hesita em se transformar em algo desumano e hediondo. Se no começo do filme, The Lodge arranca essa impressão de normalidade através de um tiro e uma boneca que não quer subir aos céus, o resultado dessa trilha é uma lição sobre responsabilidade e sobre o quanto suas ações têm consequências.

The Lodge é sobre consequências, perdas, feridas abertas e erros que vão longe demais, e quando isso acontece, não importa mais quem está errado ou certo, já que olhar para trás em busca de uma solução deixa de ser uma opção.


“The Lodge” (EUA/Can/UK, 2019); escrito Severin Fiala, Veronika Franz e Sergio Casci; dirigido por Severin Fiala, Veronika Franz; com Riley Keough, Jaeden Martell, Lia McHugh, Richard Armitage e Alicia Silverstone


Trailer do Filme: The Lodge

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