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Torquato Neto – Todas as horas do fim | Necessário, não indispensável


Torquato Neto, a ver pelo seu próprio documentário – Torquato Neto – Todas as horas do fim – foi um rapaz sem muita lógica. Ele é um poeta que sente e sai a escrever, falar e cantar. Um dos influenciadores do movimento contracultural da Tropicália, trabalhou com grandes nomes hoje da música brasileira como Gilberto Gil, Gal Costa e Edu Lobo. Se suicidou aos 28 anos após passar uma noite inteira com amigos, em uma verdadeira incógnita. Como deve ser. Mas esse filme, violando as leis caóticas da mente do compositor, tenta encontrar uma razão para seu trágico fim. E isso é imperdoável.

Dirigido e escrito pela dupla Eduardo Ades e Marcus Fernando, logo de cara mostram que o trabalho de desencavar um verdadeiro arcabouço multimídia da época é digno de aplausos. Eles resgataram uma parte da arte brasileira que estava esquecida e jogada em um canto empoeirado e com isso transformaram este filme em uma obra necessária. Porém, ser necessário não o torna indispensável, e navegando pela burocrática cronologia do artista encontramos uma repetição de velhos cacoetes de cineastas empolgados demais com o conteúdo e se esquecendo de polir a forma.

O filme é uma sequência ininterrupta de testemunhos que não se sentam em uma cadeira de frente para a câmera, mas são filmados por arquivos ou cenas esparsas que dão um rosto às suas vozes. Isso é uma boa característica. Porém, o que eles dizem não aumenta em nada nossa percepção de quem era, afinal de contas, Torquato Neto. Suas músicas são ouvidas, seus versos são ditos, mas isso nós já sabemos. “Torquato foi um dos maiores…” é o que conhecemos por contar história para boi dormir. Parece que o filme inteiro tenta justificar o valor de seu protagonista, como que não confiando o suficiente que o espectador o fará.

E isso é necessário em alguns trabalhos. Talvez até seja nesse. Torquato não tinha um rosto com que poderíamos nos identificar com suas músicas, pois ele era o compositor, não o intérprete. O único rosto que se repete várias vezes é a do vampiro, sua figura imortalizada quando fez o “Nosferatu” brasileiro. Mas este não é o filme em que ele recita suas poesias.

Torquato Neto Crítica

A história narrada por testemuhos e ilustrada por arquivos de fotos e vídeos acompanha a história de Torquato desde seu nascimento no Nordeste até seu pequeno tour pela Europa para “conhecer gente famosa” (Jimmy Hendrix, John Lennon), enquanto no Brasil imperava uma ditadura e uma censura que impediam a voz tresloucada do poeta de acontecer. Cada testemunho procura encontrar razão para seu suicídio, seja em alguma coisa que ele disse ou algum detalhe de sua vida. O fato é que todos seus amigos até hoje nunca encontraram esse motivo, e o filme não deveria tentar.

A impressão geral é que o documentário é sobre o suicídio, e de repente, incidentalmente, ocorre uma transformação biográfica que nos conta começo, meio e fim de um artista brasileiro esquecido pelas massas, assim como as vaias para a Tropicália. Agora ele está disponível, em áudio e vídeo, imortalizado em um arquivo que deve durar algumas décadas, e que deve servir de ponto de partida para algumas experiências inusitadas na filmografia brasileira.


“Idem” (Bra, 2017), escrito e dirigido por Eduardo Ades, e Marcus Fernando, com Ivan Cardoso, Gilberto Gil, Torquato Neto


Trailer – Torquato Neto – Todas as horas do fim

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