Treze Vidas: O Resgate | Emocionantemente real

Todo mundo que nasceu antes dos anos 2000 já deve ter dado de cara com algum filme vagabundo baseado em uma história real, com orçamento baixo e fazendo a felicidade brega das tardes da TV aberta. Treze Vidas: O Resgate poderia ser um desses filmes… mas não é.

Para quem não ligou o nome à pessoa, o filme leva para as telas a recente história do time de futebol de jovens na Tailândia que, junto com o professor, resolveram fazer um passeio em uma caverna. Para a infelicidades deles, uma grande chuva prendeu todos em um lugar de dificílimo acesso. A trama real foi acompanhada por olhos nos quatro cantos do mundo enquanto disputava atenção com a Copa do Mundo. Com certeza muita gente vai se lembrar.

Isso é bom para uma primeira identificação com o assunto, entretanto a cobertura metódica do ocorrido pelo mundo inteiro faz com que ainda os detalhes estejam frescos na mente de muita gente, consequentemente, mais pressão sobre a precisão histórica do filme. A responsabilidade fica nas mãos experientes de William Nicholson, um nome que vem enfileirando trabalhos baseados em fatos reais: Mandela, Invencível, Evereste e Uma Razão para Viver. E isso faz uma diferença enorme. Ainda mais em uma situação como a de Treze Vidas.

A grande maioria das pessoas que se interessarem pela nova produção da Amazon Studios já sabem o final e grande parte das reviravoltas da história inteira. O que Nicholson faz é encontrar muito bem seus protagonistas e valorizar os poucos momentos de tensão. E isso torna o filme uma experiência poderosa, emocionante e imperdível.

Mesmo com toda dinâmica na Tailândia, com as autoridades tentando disputar os espaços e culpas (situação que empurra o filme por quase um terço dele), a história é carregada mesmo pela dupla de especialistas em resgates submarinos em cavernas Rick Stanton e John Volanthen, vividos por Viggo Mortensen e Colin Farrel (respectivamente). É a dupla que faz o primeiro contato com os sobreviventes, serve de consultoria para a equipe de salvamento local, cria uma solução para o problema e ainda transportam os garotos (ufa!).

E se isso soar “white savior”, ok… tem sim um pouco disso, por mais que seja a história real. E por mais ainda que o roteiro de Nicholson se esforce par acompanhar um arco onde a população local tenta desviar a água do lado do topo da montanha que cobre a caverna. Por isso mesmo, um papel extremamente importante para o sucesso da missão, mas que talvez não ganhe tanta atenção do roteiro, justamente, por dar certo demais. E cinema é feito de conflitos.

Treze Vidas: O Resgate | Emocionantemente real

Voltando ao lado dos heróis brancos do Reino Unido, ainda que a dupla de atores consiga entregar um trabalho absolutamente acima da média, principalmente em termos dessa construção de uma naturalidade e fragilidade de ambos, o maior herói do filme vem do outro lado do Atlântico, o diretor americano Ron Howard.

Com seus dois Oscars embaixo do braço, Howard assina mais uma vez um trabalho que coloca acima de sua estética, a vontade de contar uma história. Esqueça suas bobagens correndo atrás de Robert Langdon e seus trabalhos soterrados de dólares e lembre-se do Howard de trabalhos mais precisos como Rush, Frost/Nixon e até o próprio Apollo 13, onde precisa lidar com uma história amplamente conhecida do público e o confronto dos protagonistas com seus limites e dificuldades.

Treze Vidas não busca um vilão ou antagonista, apenas deixa a história ser ela mesma. Howard entende os pontos fortes e tensos do roteiro e faz deles os pilares para seu filme. Portanto, mesmo com o final adiantado por muitos, cada momento tenso de Treze Vidas é realmente tenso. Cada momento emocionante e sensível, é realmente emocionante e sensível. O poder da experiência do filme de Howard está na realidade, mas na realidade que ele faz questão de valorizar.

A construção dos protagonistas é delicada e precisa. Nunca heróis, mas sempre duas pessoas que precisam estar lá porque sabem que podem ser a única possibilidade de sucesso de toda operação. A encruzilhada emocional dos dois e conflito interno de seus arcos não é explosivo ou exposto, mas sim preso dentro dessas duas figuras que beiram uma tristeza diante de um peso que os esmaga. A fragilidade, tanto dos dois, quanto dos outros parceiros de resgate que chegam na história depois, não está em uma frase ou questionamento, mas sim no olhar cheio de pesar, no respiro de alívio ao final e até em um choro que deixa a pressão escorrer. Howard entende isso tão bem que é impossível não ser emocionar com todos esses momentos.

O diretor vai ainda mais longe e cria um filme que tem no estético uma experiência quase sensorial. As imagens submersas são repletas de escuro, incerteza e um desenho de som que amassa o espectador entre bolhas e falta de fôlego. Howard coloca o espectador para mergulhar com cada um de seus personagens. Faz também todos se emocionarem com um final feliz que todo mundo já sabia que ia acontecer. O segredo não está na surpresa, mas na humanidade.

Treze Vidas: O Resgate é humano porque trata de humanos em todos lados dessa equação. Tudo poderia até ser um filme baseado em fatos reais daqueles que ficaram esquecidos na memória fraca da TV aberta, mas é mais do que isso. Muito mais. Assim como o caso real, ficará na memória do espectador por um bom tempo depois do final, mesmo feliz. De vez em quando, tudo dar certo é um alívio, mas o mundo faz questão de impedir isso de acontecer muito, então é melhor aproveitar cada uma dessas oportunidades.


“Thirteen Lives” (UK, 2022); escrito por Don MacPherson e William Nicholson; dirigido por Ron Howard; com Viggo Mortensen, Colin Farrell, Joel Edgerton, Tom Bateman, Paul Gleeson, Girati Sugiyama, Teeradon Supapunpinyo, Pattrakorn Tungsupakul, Sahajal Boontjanakit e Shakriya Tarinyawat


Trailer do Filme – Treze Vidas: O Resgate

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