Tudo Pelo Poder

Bem diferente da imagem de playboy que faz questão de mudar de par a cada cerimônia de premiação, George Clooney desde que se meteu a dirigir filmes surpreende a cada tentativa, e Tudo Pelo Poder é um retrato impressionante de um cineasta maduro.

Cada um a seu jeito, seus três filmes anteriores parecem experimentações visuais e narrativas, cada um deles encravado em um gênero, ou uma homenagem (ou em um estilo, como preferir), que, talvez, tenham servido de laboratório para esse drama político poderoso. Nele, Ryan Gosling (em mais uma atuação sutil e impressionante) vive Stephen, o Assessor de Imprensa de um candidato democrata (o próprio Clooney) que está prestes a participar de uma prévia do partido.

É nesse cenário que Stephen, na verdade um sonhador em começo de carreira (mesmo que prematuro), tem que enfrentar o peso de suas decisões e dos caminhos, algumas vezes pouco éticos, que precisa percorrer para fazer esse trabalho. Inspirado no livro Farragut North, de Beau Willimon, Tudo Pelo Poder talvez esteja então mais interessado em mostrar esse ciclo que começa e se fecha, mas que transforma totalmente a vida desse personagem.

Para fazer isso, Clooney, que também é um dos roteiristas junto de Grant Heslov (que já tinha escrito “Boa Noite e Boa Sorte” com o diretor) e do próprio escritor, trata Tudo Pelo Poder como um filme estruturadamente clássico, daqueles que sabe exatamente aonde quer chegar desde o primeiro momento. Com uma imensa segurança narrativa Clooney desenha seu filme ao redor desses dois momentos, inicial e final, em uma enorme rima visual que mostra que, na verdade, tudo aquilo não é o começo nem o término de nada, mas sim a repetição cruel de um mundo mais cruel ainda.

Tudo Pelo Poder é então sobre esse homem que começa acreditando no que está fazendo, que vê em seu candidato a real mudança do mundo, mas que precisa tomar um caminho muito mais sinistro que sequer pensava em tomar para continuar com seu sonho. Talvez, como se os fins justificassem os meios, mas ainda assim, tendo que sobreviver a esse mergulho nas trevas, como o diretor Clooney faz questão de imprimir no decorrer do filme enquanto Stephen cada vez mais se perde nesse mundo.

É então que percebesse que Clooney esteja mesmo preocupado com o estudo desse personagem, com todas essas mudanças que o fazem ir desse “assessor puro” a um chantagista que se vê obrigado a passar por cima de todos e enfrentar até seus superiores ao perceber que ele próprio era o elo mais frágil dessa corrente. Por um lado só uma mosca pega nessa teia, por outro, um jovem que vê que aquilo é sua vida e muita gente parecia estar “brincando” demais com ela.

Clooney então coloca Stephen entre uma estagiária (Evan Rachel Wood) que pode colocar toda a campanha a perder (assim como toda moral do candidato), seu diretor de campanha, e mentor (Philip Seymour Hoffman) e ainda o personagem de Paul Giamatti, que comanda os passos do outro candidato. Um mundo que acaba desabando nas costas do protagonista e não lhe deixa opção a não ser passar por cima de tudo que mais acredita para seguir seus planos.

A direção segura de Clooney ajuda mais ainda na hora de criar essa trama, já que sua câmera parece sempre em busca de um lugar incômodo, ora grudada demais no personagem, ora deslizando para as sombras de onde Stephen surge e, por muito vezes acompanhando seus personagens por trás de suas costas, como se sentisse um incômodo de encarar toda aquela situação. E Clooney parece tão artisticamente maduro que se permite um plano longo e maravilhoso onde, com sua câmera fixa, apenas observa três camadas de personagens separados por paredes de vidro, uma escolha estética que se torna mais incrível ainda ao perceber o quanto o protagonista permanece espremido no meio de tudo isso (apenas o áudio de cada uma das camadas serve de montagem). Um plano que resume o filme e traz a tona essa dinâmica que move Tudo Pelo Poder.

Como se ele olhasse para essa campanha de modo geral, convidando seu espectador a observar por trás de um ou outro personagem para entender de onde vem toda essa sujeira que é varrida para baixo dos tapetes da política. Mas sem deixar ninguém esquecer o quanto tudo isso pode refletir nas ações de todos, de modo imprescindível como rios de chuva no vidro do carro que formam cicatrizes de lágrimas na face do protagonista, já derrubado e esmagado por todo esse mundo. Como um sentimento que precisa escorrer para fora da política, essa, em um mundo onde não há lugar para vingança. Um mundo cínico.

E talvez Tudo Pelo Poder seja isso mesmo, um trhiller cínico sobre política, que cutuca um punhado de feridas, mas mostra que no final das contas as estagiárias continuarão trazendo os cafés, os chefes de campanha continuarão fazendo o possível e o imaginário para ganhar uma eleição e que, sempre em algum lugar, alguém vai arrumar o microfone antes de um candidato, ou assessor, contar para todos a sua verdade, a sua versão dos fatos, doa a quem doer, acredite quem acreditar.


The Idles of March (EUA, 2011), escrito por George Clooney & Grant Heslov e Beau Willimon, dirigido por George Clooney, com Ryan Gosling, George Clooney, Paul Giamatti, Evan Rachel Wood, Maisa Tomei e Jeffrey Wright

 


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