Um Crime para Dois | Muito engraçado… e isso basta


[dropcap]T[/dropcap]alvez Um Crime para Dois acabe sendo uma das grandes vítimas dessa quarentena provocada pelo Covid-19. O filme tinha sido produzido e planejado para ser lançado em abril nos cinemas, com pompa de uma trinca de nomes e biografias que venderiam bem o filme, muito provavelmente até um topo das bilheterias por uma semana ou duas. Infelizmente, o que vai acontecer é que ele será esquecido dentro da Netflix.

Essa “trinca” é formada por Michael Showalter, Issa Rae e Kumail Nanjiani. O primeiro, diretor do recente Doentes de Amor, que chegou até a ser indicado ao Oscar (e é ótimo!), já Nanjiani, não só escreveu o roteiro indicado, como estrelou o filme e passou a estar sob os holofotes de Hollywood. Por fim, Issa Rae, “vai muito bem, obrigado” com seu sucesso Insecure na HBO, que já chega a sua quinta temporada.

Um Crime para Dois é escrito por Aaron Abrams e Brendan Gal, ambos vindos na TV, onde assinaram a série Ponto Cego, o que não deixa muito claro se o melhor de Um Crime para Dois é justamente o trabalho deles. O melhor do filme, e o que salva a experiência, é mesmo a dupla de protagonistas. Na verdade, fica até fácil imaginar o quanto “daquilo tudo” foi improvisado pelos dois comediantes.

Isso acontece, pois, Um Crime para Dois é realmente engraçado, mas isso graças a divertidíssima dinâmica entre Rae e Nanjiani. Eles vivem um casal apaixonado que vê sua relação se desgastar, mas entre isso, discutem uma quantidade insustentável de assuntos diferentes ao mesmo tempo. O ritmo dos dois é inabalável e o resultado é impagável. Mas é preciso ter uma história para mover tudo isso, e nesse caso ela não é muito inspirada.

Após se meterem sem querer em um assassinato, acabam achando que serão acusados pelo crime, afinal, como eles chegam à conclusão logo cedo, uma negra e um muçulmano entrarem na delegacia explicando que não mataram, não seria uma boa ideia. A piada é boa, mas a motivação não é crível o suficiente, então desde o começo, todas ações deles durante essa madrugada refletem uma incrível burrice dos personagens, que a cada passo se metem em uma bagunça maior ainda, envolvendo políticos sendo chantageados, um assassino profissional e até uma seita esquisitona.

É lógico que Um Crime para Dois tem como objetivo fazer com que o casal se descubra apaixonado e tenham um final “felizes para sempre”, portanto, nada de novidade. Sobraria para o roteiro coloca-los em situações que os ajudassem a descobrir esse amor. Não acontece, o ritmo dos dois só fica mais alucinante e ainda mais maluco, não param de falar sobre tudo, divagando e segurando o filme pelo braço. E isso é ótimo!

Acompanhar os dois conversando é uma experiência incrível, a química entre eles é gigante, e isso faz o filme valer a pena, mesmo diante de um roteiro tão fraquinho e capenga. O caos que os dois provocam em cena é digno dos melhores casais do gênero “perdidos na noite e metidos em um crime sem querer”.

Recentemente Jason Bateman e Rachel McAdams tiveram problemas semelhantes no imperdível A Noite do Jogo. Um pouco mais velho, Uma Noite Fora de Série também colocava Steve Carrel e Tina Fey na mesma situação. Resumido, Hollywood ainda não vai parar de colocar casais engraçados em uma madrugada que deveria ser esquecida. Rae e Nanjiani não só colocam um pouco de uma bem-vinda cor nessa dinâmica, como deixam claro que , mesmo com muito menos experiência, deixam o filme à altura desses outros dois sucessos. Infelizmente, ele será deixado de lado no catálogo do serviço de streaming e não encontrará o sucesso dos cinemas.


“The Lovebirds” (EUA, 2020); escrito por Aaron Abrams e Brandan Gall; dirigido por Michael Showalter; com Issa Era, Kumail Nanjiani, Paul Sparks, Anna Camo, Kyle Bornheimer e Andrene Ward-Hammond.


Trailer do Filme – Um Crime para Dois

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