Uma Fada Veio me Visitar | Uma “fada” de dois gumes

Estou em uma fase bem estranha, talvez inevitável para todo cinéfilo que já viu filmes demais: eu não gosto mais de filmes bons. E como tudo é uma “fada de dois gumes”, essa é uma boa… não, ótima notícia para este texto sobre o retorno de Xuxa Meneghel aos cinemas: eu adorei Uma Fada Veio me Visitar!

Isso quer dizer que este filme é bom? Claro que não, Arnaldo. Aliás, seja sincero consigo mesmo: desde quando você espera que um filme da Xuxa seja bom?

Porém, veja bem. Isso não quer dizer que ele não seja agradável de assistir. Ele é. E é justamente isso o que falta nos filmes ditos bons. Filmes bons, aqueles na média, querem apenas agradar ao público, o que, convenhamos, cansa demais. Filmes como esse “da Fada” não precisam se preocupar com essas bobagens de agradar. Basta colocar a “Rainha dos Desprovidos de Altura” em cena contracenando com uma adolescente genérica e apelando para um “fan service” construído ao longo de décadas.

E décadas foi o tempo que esta fada ficou congelada. Na história do filme. Tatu estava engavetada desde seu último fracasso (que nunca é descrito) e essa é sua chance de se redimir. Esse papel cabe perfeitamente nas mãos de Xuxa, que desfila pela passarela de referências gratuitas aos anos 80 enquanto interage com a adolescente Luna sem mover a história um pulinho sequer.

A fada Tatu é uma segunda adaptação do livro homônimo de Thalita Rebouças. A primeira reencarnação nos cinemas foi protagonizado por Kéfera Buchmann em É Fada. Sim… é fada. Hoje concordamos mais ainda com este trocadilho.

Se fôssemos julgar o projeto antes de sair do papel eu apostaria que o resultado seria muito repetitivo. Porém, Xuxa está tão à vontade nesse papel vestindo figurinos bregas e dizendo gírias empoeiradas que o resultado é passável. Até as frases vazias, praticamente requentadas de trabalhos passados, soam naturais vindas da boca da Rainha.

Enquanto isso, sua coprotagonista estudante de classe média é a estreia de Antonia Périssé (filha de Heloísa Pérrisé). A atriz segue essa breguice de perto, se passando por uma estudante adolescente de Malhação sem qualquer pudor em usar diálogos de censura livre. Muito próximos, aliás, do imaginário popular de como os jovens de hoje em dia estão se comunicando com expressões sem qualquer agressividade, malícia, sarcasmo e graça.

A produção do filme, enquanto isso, se aproveita da repetição de cenários para gravar tudo da maneira mais econômica possível. A diretora Vivi Jundi ajuda, abraça a causa e realiza um tour nostálgico que todos os fãs de Xuxa esperavam com aquele amorzinho, beijinho e tchau tchau. E o resultado é um xou, com xis, “mexmo” (imagine isso com sotaque carioca).

O filme nunca cai na tentação de elevar o audiovisual, preferindo se manter em seu feijão com arroz com linguagem simples e piegas para toda família. Os mais velhos irão se lembrar das referências e se encantar com suas próprias memórias. E os mais novos… eu não sei, mas não importa: não são eles que pagam o ingresso, mesmo.

A facilidade com que a narrativa cai no lugar comum é ótimo, pois resume tanto a história que você nem precisa se preocupar com os detalhes. Os conflitos principais giram em torno dos namoricos das jovens e o drama “pesadíssimo” envolvendo uma influencer sendo acusada de usar perfis falsos para atacar os anônimos na internet. Um deles foi até internada com sintomas de depressão grave. Onde esse mundo vai parar, “meu dels”?

Tudo é narrado com a maior responsabilidade social que se pode esperar de um folheto de campanha, quase se esquecendo que este é um filme que vai passar nos cinemas. Por isso é difícil desgostar se um trabalho desses. Não há nada que seja mal feito. Já dizia algum influencer (se não disse diria): um filme que não ousa nunca será punido. E ousado. Fecha parênteses.

Até porque criticar o alto astral hoje em dia é discurso de ódio, algo que não iremos tolerar e que não farei neste texto, em respeito a trabalhos anteriores da atriz. Como Super Xuxa Contra o Baixo Astral. Você lembra desse? Ele é quase tão bom quanto. Só não supera o primoroso Lua de Cristal, claro.

Agora eu estou vendo sua cabeça começar a tocar a música-tema para sempre. Aproveite. Beijinho, beijinho…

“Uma Fada Veio Me Visitar” (Bra, 2023); escrito por Thalita Rebouças; dirigido por Vivianne Jundi; com Xuxa, Antonia Périssé, Tatsu Carvalho e Denise Del Vecchio.

SINOPSE – Diante de um monte de dificuldades da adolescência, Luna recebe visita de Tata, uma fada atrapalhada que tem uma última chance de cumprir seu trabalho e ajudar Luna.

Trailer do Filme – Uma Fada Veio me Visitar

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