Ainda que muitos acreditem que o cinema é unicamente um produto intelectual estruturado para ser uma experiência cognitiva de imersão, de vez em quando é necessário um certo afastamento de todo esse peso, principalmente quando a ideia é arrancar algumas risadas. Coisa que não isenta Uma Noite Fora de Série de ser um desastre.
Escrito pelo mesmo Josh Klausner do último, é péssimo, Shrek Para Sempre e dirigido por Shawn Levy, acostumado a esse tipo de “desapego narrativo”, como em Uma Noite no Museu (e sua horrível continuação), além de “sucessos” como Recém Casados e Doze é Demais, o filme até empolga ao apresentar no cartaz o casal Steve Carrel e Tina Fey como protagonistas, mas, bem verdade, se preocupa pouco em jogar o filme no colo do casal.
Nele, eles são um casal suburbano de Nova Jersey que resolve apimentar o casamento com uma noite romântica em um restaurante chique de Manhattan mas ao não conseguirem uma mesa acabam usando a reserve de uma certo casal Triplehorn. O filme se torna quase um policial quando o casal começa a ser perseguido por uma dupla a procura dos verdadeiros “donos” da mesa e um pen drive.
Quase, por que a impressão que se tem é de que nada parece fazer sentido depois que o casal é abordado. Não uma falta de sentido tipo à la Depois de Horas de Martin Scorsese, mas sim uma ausência de veracidade narrativa, como se ninguém ali se importasse em dar sentido para tudo que acontece na tela. Personagens burros, situações irreais demais, ou você acha que um alarme em Manhattan iria ficar tocando por todo aquele tempo e ninguém iria aparecer para ver, (ainda mais quando segundos depois as fotos de ambos já estavam nas mãos da polícia), uma perseguição com dois carros grudados digna dos piores filmes de ação, e um final totalmente sem sentido que, ainda por cima, faz o espectador engolir uma reviravolta desnecessário (com uma surpresa dentro do pen drive) e uma chegada da policial que ficará nos anais do cinema como uma das piores da história. Tudo corroborando para o grande desperdício que o filme se torna depois de alguns minutos.
Levy não explora nenhuma situação realmente interessante em todo filme, deixando ele se arrastar pela madrugada não como uma perseguição, mas como um jogo de tabuleiro onde cada participante espera seu turno para dar o próximo passo, por isso espere extensas conversas entre os protagonistas e verdadeiros rombos na linha de tempo do filme, tudo isso salpicado por uma impressionante falta de graça, salvo algumas pouquíssimas linhas de Steve Carrel e Tina Fey (coisa que só pode ser atribuído a eles mesmo, já que durante os créditos finais essas mesmas linhas são mostradas como resultado de improvisação da dupla). Junte a isso um elenco com bons nomes como James Franco, Mark Whalberg, Mark Ruffalo e Ray Liota, todos desperdiçados em aparições despretenciosas e sem função, e a catástrofe está formada.
Uma Noite Fora de Série tenta ser um comédia policial de enganos, mas na verdade não tem nada de comédia, nem de policial, só de enganos.
“Date Night” (EUA, 2010) escrito por Josh Klausner, dirigido por Shawn Levy, com Steve Carrel, Tina Fey, Mark Whalberg, Willian Fitchner, Jimmi Simpson, Common, James Franco e Mila Kunis