Uma Quase Dupla Filme

Uma Quase Dupla | Dinâmica e carisma do casal são o melhor do filme


[dropcap]U[/dropcap]ma dupla de policiais com personalidades e estilos de trabalho completamente diferentes sendo forçados a trabalhar juntos — essa é a base de dezenas de histórias mundo afora e, agora, também da comédia Uma Quase Dupla, que aposta principalmente na dinâmica entre Tatá Werneck e Cauã Reymond para funcionar. Entre altos e baixos, o longa consegue arrancar risadas e toma algumas decisões interessantes, mas perde-se no caminho para sua conclusão.

Na idílica cidade carioca de Joinlândia, todo mundo é gente boa e a polícia pouco tem a fazer. Por isso, quando o cruel — e misterioso — assassinato de uma jovem ameaça quebrar a tranquilidade do lugar, a policial Keyla (Werneck) é chamada da capital para auxiliar o subdelegado Claudio (Reymond) a desvendar o crime. O que era apenas uma suspeita de Keyla, porém, logo mostra-se verdade: eles estão lidando com um serial killer. Antes que o número de mortes aumente ainda mais, a experiente e agressiva Keyla precisa compreender o jeito pacato da cidade e de seu parceiro, Claudio, enquanto ele deve aceitar que realmente há um assassino cruel em sua querida Joinlândia.

O diretor Marcus Baldini e o roteirista Leandro Muniz aproveitam ao máximo as personas de seus protagonistas para desenvolverem os personagens — Claudio é o cara atraente e ingênuo, Keyla fala rápido e tem diálogos um pouco mais afiados. A verdade é que Reymond e Werneck funcionam, sim, muito bem juntos, e o longa acerta ao mesclar as personalidades de cada um com seu jeito de trabalhar e ao fazer com que o conflito seja tanto pessoal quanto profissional. Nesse sentido, é compreensível, dentro da lógica do filme, que Claudio seja tão pacato e pouco desconfiado — é divertido vê-lo conversando normalmente com os habitantes da cidade no caminho para a cena do crime, sem sequer pensar em considerá-los como suspeitos. Enquanto isso, Keyla consegue até mesmo levantar a questão da mulher em uma área de trabalho majoritariamente masculina, já que sua agressividade é também uma maneira de evitar quaisquer comentários sobre uma possível fragilidade ou incompetência simplesmente por ela ser mulher; ela precisa se mostrar mais dura e mais eficiente do que seus colegas se quiser provar que “merece estar ali”.

Outra qualidade do longa é o fato de conseguir estabelecer Joinlândia como um lugar excêntrico em que residem pessoas que não surgem exatamente alegres e carismáticas, como elas acreditam ser, mas petulantes. Assim, a identidade e a motivação do serial killer fazem sentido dentro dessa esquisitice, ainda que sua revelação aconteça quando o filme já está perdendo o fôlego. Isso sem falar na mais do que obviedade, já que Baldini e Muniz cometem o erro básico de estabelecer todo mundo como suspeito enquanto desconfiança alguma recai sobre um personagem em específico.

Na maior parte do tempo, Uma Quase Dupla tem um ritmo ágil — e a montagem acerta também na criação de algumas boas rimas visuais, como aquela envolvendo duas canecas de café —, mas o terceiro ato chega perto de perder o controle sobre a produção. Além disso, é aí que Baldini resolve inserir um teor quase-romântico no relacionamento de Claudio e Keyla, o que não apenas é feito de forma apressada, mas ainda prejudica a parceria que o filme havia conseguido construir para eles até então.

O resultado final, portanto, é uma comédia levemente divertida e que traz alguns indícios de personalidade e estilo, graças principalmente à dinâmica e ao carisma de suas estrelas, mas que perde o gás ao longo da projeção.


“Uma Quase Dupla” (Brasil, 2018), escrito por Leandro Muniz, dirigido por Marcus Baldini, com Tatá Werneck, Cauã Reymond, Louise Cardoso, Ary França, Luciana Paes, Alejandro Claveaux, Daniel Furlan e Augusto Madeira.


Trailer – Uma Quase Dupla

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