[dropcap]N[/dropcap]ão há dúvidas que praticamente nada se cria, principalmente no cinema, e diante de um desses poucos momentos em que a Pixar (realmente) criou o ótimo Monstros S.A., era de se esperar que, mais de uma década depois, sua continuação Universidade Monstros se tornasse dispensável, ainda mais quando a solução chega por meio de uma prequel. Mas nem por isso o filme deixa de ser simpático e prático, o que, de certa forma, é mais que suficiente.
A parte que não precisaria existir, e da reciclagem, vem, justamente daquilo que acompanha o título, já que “Universidade Monstros” é apenas isso: Um filme sobre um college americano, como diversos outros. Igual a Os Nerds Contra-atacam de 1984, e mais recentes “revisões” como Dias Incríveis e Casa das Coelhinhas, com tudo girando ao redor de uma fraternidade de “losers” e uma última e única chance de lutarem contra aqueles “populares”.
A diferença aqui (e que obviamente ainda não poderia ter acontecido) é que todo cenário é o mesmo daquele da animação de 2001: o mundo dos monstros. Aqueles que usam os gritos das criancinhas como energia, mas isso com a fofura colorida e simpática que a Pixar criou, conquistou todos e continuará conquistando. No caso, quem está na faculdade é a dupla de Assustadores Mike e Sully.
Bem verdade eles ainda não são uma dupla, com o começo dessa amizade e parceria senda a desculpa para esse novo filme. Com o simpático, redondo e verde Mike chegando à universidade, desacreditado, diante de, justamente, não ser assustador o suficiente e ainda tendo toda suas qualidades intelectuais diminuídas diante da presença cativante do gigante peludo e azul James Sullyvan, mais novo filho de uma linhagem de assustadores famosos.
E ainda que esse conflito seja apenas o ponto de partida de toda trama, que caminha então para um “probleminha” que obriga os dois a se juntarem a uma fraternidade (de “losers”) e serem obrigados a vencer uma competição para voltarem ao sonhado Curso de Susto, é esse primeiro momento que melhor mostra de onde vem toda aquela praticidade, já que tanto a direção de Dan Scanlon, quanto o roteiro escrito por ele e por Robert L. Baird e Daniel Gerson, parecem à vontade em traçar extremamente bem os estereótipos que empurram o filme. Decisão que permite que ambos os arcos narrativos se tornem ricos e extremamente interessantes, com dois protagonistas que não perdem a personalidade (já conhecida) e ainda assim crescem diante dos olhos do espectador.
Mas essa dinâmica entre os dois também já foi usado no primeiro filme, e, muito provavelmente, acabou até sendo um dos pontos altos dele, lado que, aqui, surge desequilibrado, já que Mike e todo seu jeitão loser de ser é o astro do filme, enquanto Sully só se permite ser profundo lá no final do segundo ato enquanto tem o terceiro para “abrir seu coração” se tornar o personagem que todos aprenderam a amar e com isso colocar em prática pela primeira vez a parceria do filme original. O que pode soar muita informação para pouco tempo, mas que, pelo contrário, dá um ritmo incrível para o final da história.
Um cuidado que surge no momento exato em que decidem se distanciar dos clichês dos outros filmes semelhantes e usar um final esperado como combustível para uma reviravolta divertida e que é extremamente bem tratada desde o começo (com pistas como a primeira visita de Mike à “fábrica”, o recorde da diretora, a porta sendo testada e a prova do labirinto no Jogo do Susto), o que mostra que, mesmo feito apenas para estender aquele mundo e vender mais alguns bonecos, tem a preocupação de entregar algo, minimamente, coerente. Coisa que acaba não sendo uma surpresa, já que vem com a assinatura da Pixar (esqueçam Carros 2).
Por outro lado, por ter uma problemática muito menos interessante que o primeiro filme, acaba sendo apenas um filme infantilizado e desinteressante para grande parte dos “mais grandinhos” (e adultos). E isso, por mais que venha envolto em um monte de lições de moral que vão cair com uma luva para a criançada (que ainda tem a oportunidade de se deslumbrarem com o visual divertido), mas que não deve conquistar quem for em busca de um pouco mais que isso, como um pouco de humor mais inteligente ou sequencias mais empolgantes (chegando ao desperdício de empurrar uma cena sem nem a menor importância envolvendo uma lesma só para conseguir uma piada no final dos créditos).
Mas ainda assim eles conseguem a piada, assim como Universidade Monstros consegue sobreviver às custas de sua simpatia e praticidade, deixando que seu sentimento de Deja Vu seja soterrado pelo monte de monstros simpáticos e coloridos como se tivessem saído dos rabiscos de uma criança assustada com o barulho de dentro de seu armário.
Monsters University, escrito por Dan Scanlon, Robert L. Baird, Daniel Gerson, dirigido por Dan Scanlon , com vozes (no original) de Billy Cristal, John Goodman, Steve Buscemi, Helen Mirren, Alfred Molina, Sean Hayes, David Foley e Charlie Day