[dropcap]U[/dropcap]pgrade: A Atualização não começa bem. Parece engessado por uma série de clichês baratos e uma preguiça narrativa que não deixa você achar que tudo aquilo irá chegar a algum lugar minimamente interessante ou novo. Mas não se preocupe, ele chega.
O filme é escrito e dirigido pelo mesmo Leigh Whannell que assinou o roteiro de Jogos Mortais e surpreendeu uma geração inteira de fãs de filmes de terror. Mais tarde Whanell ainda esteve por trás do texto de Sobrenatural antes de estrear na direção de Sobrenatural: A Origem. Upgrade é o segundo filme onde seu nome aparece escrito na cadeira de diretor.
Todo esse currículo é bom para fazer todos entenderem de onde saiu Whannell e do quanto não se está falando de um desconhecido do cinema. Passando para os spoilers de sua carreira, Whanell ainda comandou O Homem Invisível e se tornou um dos diretores mais interessantes da atualidade. O que faz de Upgrade aquele momento onde grande parte das pessoas “o descobriram”, e as aspas estão aí para levar em conta esses dois parágrafos.
Mas como já foi dito, Upgrade não começa muito empolgante. Com Logan Marshall-Green vivendo Grey Trace, um cara old school em um futuro cheio de carros falantes e mesas interativas. Grey arruma carros vintage e isso é só o começo dos clichês.
Depois de um “acidente” que mata sua esposa Asha (Melanie Vallejo) e o coloca em uma cadeira de rodas, acaba aceitando a proposta de um milionário cientista excêntrico de receber uma espécie de chip que, não só lhe devolve os movimentos dos membros, como ainda lhe permite estar conectado com toda tecnologia à sua volta (e algumas outras “coisinhas”).
O tal “acidente” está entre aspas, pois Asha foi assassinada friamente por quatro criminosos que agora irão encontrar a fúria desse Grey 2.0. Whanell embarca então nessa espécie de mistura de Desejo de Matar com Ela, já que o tal chip, Stem, começa a falar com ele e em pouco tempo acabam criando uma relação onde a sobrevivência de um depende do outro.
E se você viu Venom e achou que isso tudo pode parecer demais com certos momentos do filme, muito provavelmente é coincidência, já que ambos foram lançados em um período próximo de tempo. Além do mais, todo mundo sabe que quando alguém não consegue contratar o Tom Hardy para um filme, a segunda opção é sempre o Logan Marshall-Green, portanto, os filmes estão mais próximos do que se imagina.
Portanto, quando Stem “toma conta” de Grey, a ideia é a mesma de um certo momento de Venom, só que aqui o personagem é apenas um passageiro dentro das ações e violência do chip. A outra diferença aqui é que Whannell não está preocupado com uma classificação indicativa e Upgrade não economiza no gore e na violência.
Whannell ainda faz com que sua câmera seja sempre um componente vivo dessas cenas de ação, nunca parada olhando para os personagens se baterem, mas na maioria das vezes, acompanhando golpes e se fixando no personagem de modo esquisito e interessante. Upgrade tem um visual excitante e que desafia o espectador a pensar no quanto o gênero desperdiça boas cenas de luta somente por não tentarem algo novo. Whanell (assim como depois faz em O Homem Invisível), mostra que sempre é possível fazer algo novo e empolgante.
Mas toda essa personalidade, em um primeiro momento, não parece que vai se permitirá ir muito mais longe do que está indo com essa vingança do Grey 2.0 com seu companheiro Stem. As surpresas até acontecem, mas nenhuma parece ser tão interessante e não permitiria que o filme fosse tão lembrado depois do fim. Mas, assim como Jogos Mortais, o melhor está no final, portanto esperar pela última reviravolta coloca Upgrade na prateleira de ótimas opções dentro do gênero.
E falando em Jogos Mortais, por mais que Whannell tire sua cartada final em Upgrade copiando seu filme mais famoso, com direito a flashback te mostrando todos detalhes que você perdeu e o vilão dando as costas e indo embora, ainda assim, a experiência parece se completar e deixar aquela boa impressão de que essa ficção cientifica (com um pouquinho de terror) pode ser considerada uma daquelas produções que entende que um gênero não é só uma repetição, mas sim uma eterna busca pela possibilidade de surpreender seu público de fãs. E isso Upgrade faz.
“Upgrade” (EUA/Aus, 2018), escrito e dirigido por Leigh Whannell, com Logan Marshall-Green, Melanie Vallejo, Harrison Gilbertson, Benedict Hardie, Betty Gabriel e Simon Maiden (voz).