Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw | O que estraga é ter mais coisa além do trailer

Por um momento Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw empolga. É lógico que quem viu o trailer já está empolgado, mas quando alguém pergunta para o personagem de Idris Elba, logo no comecinho do filme, “quem ele é” e ele responde “o vilão!”, é fácil imaginar que esse humor te levará nessa aventura divertida e espalhafatosa. Mas não é isso que acontece.

Principalmente, pois existe mais de duas horas de história além daquilo que acontece no trailer. Pior ainda, “o vilão” talvez seja o ápice criativo de um roteiro que tem algumas das piores linhas de diálogo que o cinema irá produzir em 2019.

É lógico que é um pouquinho divertido acompanhar essa ação dividida entre Luke Hobbs (Dwayne “The Rock” Johnson) e Deckard Shaw (Jason Statham), com cada um imprimindo seu estilo, mas quando isso simplesmente não faz a menor diferença em termos de nada, tudo cansa. Hobbs é um brutamontes, Shaw é um ex-agente do MI-6 fino. Hobbs parece estar em um filme de brucutu dos anos 80, Shaw acaba a ação sempre arrumadinho, enfim, o contraste está lá, óbvio, você percebe isso, depois vê isso se repetindo, depois mais um pouco, depois tudo se junta, não faz mais sentido e você quer ir embora do cinema.

Muito disso, porque ambos abrem a boca, e o resultado disso é terrível. O roteiro de Chris Morgan e Drew Pearce simplesmente acha que seria muito engraçado que os dois personagens se ofendessem como se fossem dois adolescentes idiotas durante dois terços do filme. E o que seria engraçado (e até tem seus momentos divertidos) se torna uma torturante repetição de uma mesma piada, como se você estivesse preso em um looping com seu tio que faz a piada do pavê.

Mas é lógico, tem aí uma história no meio disso tudo. A do vilão vivido por Elba perseguindo a irmã de Shaw, Hattie (Vanessa Kirby), que se inoculou com um daqueles vírus de vilões do 007, para que ele não caísse em mãos erradas. Agora ela tem 72 horas para tirar o vírus dela mesma ou causar um apocalipse viral que irá eliminar toda a humanidade. Mas não se preocupe que 72 horas é tempo suficiente para o trio fugir de Elba, preparar um roubo, cruzar a Europa em um voo comercial, viajar para Samoa (de helicóptero… ai tudo bem!) e ter uma madrugada inteira para “arrumar a casa” à lá Esqueceram de Mim.

E se isso tudo não parece fazer sentido, tudo bem, talvez essa nem seja a ideia, muito pelo contrário até. Seguindo a fórmula dos últimos Velozes e Furiosos, ser muito ruim e exagerado talvez abra a possibilidade de tudo ser encarado com uma grande brincadeira, mas aqui isso não funciona, justamente por causa da suspensão de descrença de Toretto e sua turma.

No mundo da franquia, a tecnologia passa por carros possantes e controles remotos simples, no resto do tempo é muita gente apertando gatilhos, pulando e fazendo coisas que matariam qualquer ser humano (mas que a gente perdoa!). Em Hobbs & Shaw, Brixton (Elba) é uma espécie de ciborgue, com melhorias robóticas, com detalhes piscando em seus olhos como um HUD de vídeo-game e uma superforça que o faz ser realmente um “Superman negro” (como você já sabia por causa do ótimo trailer!).

E não me canso de elogiar o trailer, pois seria perfeitamente possível que aquilo ali se tornasse um amalucado e cara-de-pau filme de ação com 90 min, com David Leitch fazendo o que sabe fazer de melhor (acabou de provar isso em Deadpool 2 e Atômica). Ao invés disso, de não deixar o diretor se divertir com suas cenas de ação exageradas, o roteiro parece refém das próprias pretensões, problemas de família dos personagens e o destino da humanidade na mão desses dois idiotas.

Mas também Leitch não é essa maravilha toda, principalmente quando parece querer mostrar o quanto ele seria capaz de dirigir algum comercial de perfume com os atores encarando sua câmera com cara de desejo e um fundo perolado pela profundidade de campo curtinha. Resumindo, até quem faz um bom trabalho em Hobbs & Shaw, erra.

Depois de exterminarem juntos um exército de capangas em três países diferentes e dois continentes distantes, Hobbs e Shaw descobrem que terão que “trabalhar juntos” para derrotar “o vilão”, principalmente, porque ele pode ter essas melhorias cibernéticas, mas a dupla de heróis é humana e o que os fará ganhar dele é “que têm corações”. Sim, se lá no começo eu elogiei uma fala que abre o filme, nada melhor do que fechar tudo com essa constatação feita por Hobbs e que beira a linha de diálogo mais imbecil que você verá no cinema nesse ano.

Fora essa raiva toda, a única coisa que você sentirá ao sair do cinema depois Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw é saudades do Vin Diesel.


“Fast & Furious Presents: Hobbs & Shaw” (EUA, 2019), escrito por Chris Morgan e Drew Pearce, dirigido por David Leitch, com Dwayne Johnson, Jason Stathem, Idris Elba, Vanessa Kirby, Helen Mirren, Ryan Reynolds e Eddie Marsan.


Trailer do Filme – Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw

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