Verdade e Justiça | Um homem e sua vala


Em algum lugar rural do século 19 na Estônia um homem chega com sua esposa a sua nova propriedade. O que se sucede em Verdade e Justiça é um épico sobre uma vala. E ele tem momentos memoráveis e bonitos o suficiente para que o esforço das quase duas horas e meia de duração valha a pena.

O filme é baseado no livro de Anton Hensen Tommsaare e é escrito e dirigido por Tanel Toom, que faz um trabalho interessante, porém desequilibrado. Tudo começa lindo, uma sequência de belos planos entrecortados em uma montagem ágil e uma sensação de que o filme seguirá um caminho muito mais visualmente empolgante do que ele realmente segue.

A trama volta no tempo para acompanhar os primeiros dias desse casal nessa nova propriedade e os conflitos do marido com o vizinho diante da necessidade de escoamento de uma local pantanoso de sua propriedade. A tal vala se torna um rasgo no meio de qualquer possibilidade de paz entre os dois, mas o filme talvez não seja sobre só sobre isso, por mais que o exagero do primeiro parágrafo funcione.

Os cenários são deslumbrantes e o trabalho de direção de fotografia de Rein Kotov está bem acima da média do que se encontra por aí em filmes com as mesmas intenções épicas. O visual ainda é completado com o design de produção de Jaagup Roomet e uma recriação de época extremamente competente e segura de suas necessidades. Talvez só a direção de Toom não consiga seguir esse rumo de acertos.

Verdade e Justiça é chato. As cenas se arrastam, as movimentações de câmera e composições não parecem valorizar a ação do filme e nem buscam qualquer tipo de significado ou valorização do que está por trás dessa primeira camada estética linda. Seus personagens não parecem ter profundidade e suas motivações nunca parecem ser construídas, mas sim surgem de lugar nenhum e empurram sua história.

Mas quando você menos espera e já está cansado dessa trama arrastada, surge mais uma daquelas montagens esplendorosas e que mostram o quanto o filme ainda pode ter salvação. Verdade e Justiça é cortado por três ou quatros desses momentos, todos com um visual tão poderoso e uma busca perfeita por conteúdo e estética que você mais uma vez esqueça de como foi cansativo chegar ali.

O resultado disso tudo pode até ser uma experiência desequilibrada, mas nunca esconde as intenções épicas, tanto pelo visual, quanto pelos saltos de tempo longos e a impressão de estar acompanhando décadas e décadas desse grupo de personagens. O objetivo por trás desse formato é tentar entender como a obsessão desse homem por um sonho que começa justo, acaba se tornando sua própria cruz e corrompe completamente não só sua alma, mas destrói sua família e enterra seus anseios.

Verdade e Justiça aposta no trágico para acompanhar esse mergulho poderoso aos lados mais escuros do que era beleza e se torna arrependimento e amargura. E se é preciso quase duas horas e meia de filme para que essa transformação esteja completa, que então os poucos momentos de beleza incontestáveis sejam o suficiente para que o filme atinja seu objetivo.


“Tõde já Õigus” (Est, 2019); escrito e dirigido por Tanel Toom, a partir do livro de Anton Hansen Tammsaare; com Priit Loog, Ester Kuntu, Priit Võigemast, Simeoni Sundja e Indrek Sammul


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