Viagem Aos Povos Fumigados Filme

Viagem Aos Povos Fumigados | Apela para o emocional e se esquece dos fatos


[dropcap]V[/dropcap]iagem Aos Povos Fumigados é um documentário estilo denúncia, mas que parece inflado de conclusões precipitadas e carece de investigação mais abrangente. Ele é feito pelo documentarista itinerante Fernando Solanas, que descobriu uma pista para esta impactante história ao final das filmagens de seu último trabalho.

Dessa forma o filme segue parecendo um relato investigativo sem a investigação. Solanas tem muito a dizer e pouco a avaliar sobre a velha questão dos agrotóxicos usados para aumentar a produção de alimentos e que vem causando doenças e mortes por conta da aplicação incorreta e pelo impacto ambiental generalizado.

O epicentro do filme é a província de Salta, na Argentina. O desmatamento crescente vai destruindo as terras pertencentes aos povos nativos, que sobreviviam bem há mais de 200 anos e hoje perdem sua forma de subsistência natural pela monocultura da soja feita pelos “donos” do terreno. Algo essencialmente errado parece estar acontecendo aqui e ninguém parece se mobilizar a respeito.

A questão da soja vai puxando outras questões que inevitavelmente caem na questão dos agrotóxicos. Mas antes há alguns argumentos misturados a respeito de transgênicos, pequenos fazendeiros e poluição da água, todos convergem para uma crítica que berra em uníssono contra a exploração da terra pelas grandes corporações. A alternativa? Orgânicos, é claro.

Viagem Aos Povos Fumigados Crítica

O maior pecado do longa é ler apenas um lado e assumir qualquer explicação desleixada para o outro lado (“ah, é tudo pelo lucro”), mas isso acaba empobrecendo um debate interessantíssimo sobre vários temas, debate esse no qual o documentarista parece tentar dar voz à população afetada.

Já o segundo pecado é abordar vários sub-temas sem se aprofundar em nenhum deles. Assim, a impressão que fica é que são problemas de análise simples e resolução mais simples ainda. O problema é que enquanto os fatos apontam para descaso total do governo para com a população o filme nunca dá uma alternativa que não seja apelar para o próprio governo com base em pressão popular, se tornando contraditório em seu núcleo de discussão.

Mas não me leve a mal. O trabalho é ótimo, com uma excelente edição e boas entrevistas com uma boa pesquisa. Há ainda uma direção inspirada, que utiliza da montagem para ilustrar os acontecimentos narrados pelos entrevistados. Quando uma professora fala sobre um avião com agrotóxicos em cima da escola e os alunos indo se esconder não há vídeo desse dia, mas o filme emula da mesma forma mostrando um avião e crianças correndo. É uma dramatização eficiente.

Porém, qual a validade de um trabalho documental que apela demais para a emoção e se esquece de analisar todos os lados da questão? Fica a reflexão para um espectador mais crítico.

Esse texto faz parte da cobertura da 42° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


“Viaje a los Pueblos Fumegados” (Arg, 2018), escrito e dirigido por Fernando E. Solanas.

Trailer – Viagem Aos Povos Fumigados

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