Walter Mitty é um personagem tremendamente interessante. Um loser padrão e praticamente incapaz de se relacionar com o mundo à sua volta, o que lhe impede de chegar perto daquela moça de seu trabalho pela qual evoluiu uma paixão secreta. Para escapar disso, Mitty se permite sonhar com uma vida muito mais interessante que a dele, o que lhe coloca em devaneios que lhe retiram do mundo real por alguns segundos. Walter Mitty é realmente um personagem tremendamente interessante, ainda que isso não seja suficiente para que A Vida Secreta de Walter Mitty seja tão interessante quanto ele.
Não que esse novo filme dirigido e estrelado por Ben Stiller (que é o próprio Mitty) não interesse, só não consegue manter o ritmo desse primeiro momento em que o espectador é apresentado para esse cara, com sua gravata, seu emprego sub-valorizado e sua valise. Desse momento logo de cara o personagem, entre um devaneio e outro, descobre que a revista na qual trabalha será fechada, e sua única/última responsabilidade é entregar o fatídico negativo desse fotografo famoso (vivido por Sean Penn), uma tal de “foto 25”, que irá ser a capa da derradeira edição, mas que Mitty não a acha de jeito algum.
Esses ¿sonhos acordados¿ (o termo em inglês “daydreamming” até existe) então dão lugar a uma aventura muito mais pura, simples e pragmática que o filme merecia. Portanto, quem se identificar com as pitadas nonsense desses momentos iniciais, pode se preparar para se transformar em um órfão delas. E não que isso prejudique o filme, ainda mais quando a história gira em torno, justamente, desse crescimento, o problema é entender então por que se ater tanto a isso no começo se logo eles seriam abandonados de modo tão abrupto.
Problema que, curiosamente, é o mesmo do trabalho anterior de Stiller por trás das câmeras, Trovão Tropical, que começa bem, mas tem um meio que não consegue fugir de ser um filme qualquer. Um recheio comum dentro de duas fatias de pão deliciosas. Nesse caso o início empolgante e o encontro com o tal fotógrafo, que, mesmo cheio de frases de efeito vazias, se permite ter uma solução inesperada e que vale o resto. Uma opção do roteiro que, pelo menos, mantém um tom sensível e que olha esse personagem de frente, esse Walter Mitty que realmente se torna uma pessoa melhor.
E o mais incrível disso é que Stiller não entrega um filme simplório, e não só pelo seus significados e lições (que são obvias, mas nem por isso descartáveis), mas ainda por um visual bonito, que não se esconde por trás de tomadas simples, busca alguns plongees plasticamente interessantes e uma fluides em seus quadramentos e movimentos de câmera que combinam com esse ritmo. Com esse personagem que parece estar em uma outra sintonia, que anda mais devagar que o resta e parece repelir todos a sua volta. Stiller realmente coloca Mitty à par desse mundo nesse começo.
Em contrapartida, perde a mão onde poderia render momentos irretocáveis. Principalmente ao não saber terminar certos devaneios, arrastando-os além do necessário ao invés de economizar e deixar que seus significados falem por si só. É incrível que o mesmo cineasta que se alonga nesse embate entre Mitty e um novo executivo da empresa, caindo em uma luta entre super-heróis, tenha a sensibilidade de usar um mesmo ¿sonho acordado¿ que o leva a começar a sua aventura de modo tão sutil ao subir em um helicóptero motivado pela ¿odisseia espacial do Major Tom¿.
Dois momentos que refletem A Vida Secreta de Walter Mitty, um filme por vezes simpático e inspirador, com um personagem que é impossível não se identificar, mas ao mesmo tempo sem conseguir seguir a principal lição que o personagem de Penn tenta passar, lembrando que ¿o Belo não chama a atenção¿. Um lema que Stiller não emprega em seu filme e decide mostrar demais, mastigar demais, com menos possibilidade para que o espectador partilhe daquilo, deixando claras demais todas ¿fotos 25¿ de seu filme, e esquecendo que as vezes, o que faltam são “tigres brancos do Himalaia”.
“The Secret Life of Walter Mitty” (EUA, 2013), escrito por Steve Conrad e James Thurber (conto), dirigido por Ben Stiller, com Ben Stiller, Kristen Wiig, Adam Scott, Adrian Martinez e Sean Penn
2 Comentários. Deixe novo
Oi Jean… muito obrigado pelo elogio do “metido a crítico” e também pelo “comentário idiota”. Espero ter argumentado bem a minha opinião e porque não acho o filme excelente. Acho até que você entendeu, mas também, curiosamente não entendi a razão de você ter preferido a agressão diante de ter aceitado minha opinião… espero encontrar sua opinião em mais textos, volte sempre e divirta-se!
Pq os metidos a criticos sempre tem de fazer estes comentários idiotas. Empolga sim! o filme é excelente e ao contrário do mencionado, a cada momento que avança, mai sempolgante fica.