Vingança & Castigo | Crítica do Filme | CinemAqui

Vingança & Castigo | Prova que o gênero ainda pode surpreender

Ainda que o faroeste seja um gênero que parece não ter fundo, sempre havendo novas histórias a serem contadas, de vez em quando há cineastas que tentam fazer algo ainda mais diferente. Recentemente (ou nem tanto assim) Tarantino teve sua chance com Django Livre, assim como S. Graig Zahler também se divertiu com seu Rastros de Maldade. Vingança & Castigo segue no mesmo caminho.

O filme de Jeymes Samuel usa personagens reais para construir uma trama fictícia, mas mais importante, faz um faroeste negro. Uma volta ao Blaxploitation com todo estilo, violência, bom humor e um pouco mais de estilo ainda.  Sem contar o elenco incrível.

Como o próprio título conta, os personagens estão em meio a uma história que envolver vingança e castigo. Não necessariamente nessa ordem.

De um lado, Jonathan Majors é Nat Love, um famoso e temido pistoleiro que está prestes a “desistir dessa vida” ao completar uma lista de vinganças contra alguns bandidos que mataram seus pais quando era ainda uma criança. Mas o Sr. Love acaba descobrindo que um dos alvos de sua vingança não está mais preso, o que faz com que ele e sua gangue partam para enfrentar esse pistoleiro ainda mais perigoso, Rufus Buck (Idris Elba).

Love tem ao seu lado os pistoleiros Bill Pickett (Edi Gathegi), Jim Beckworth (RJ Cyler) e Mary “Stagecoach” Fields (Zazie Beetz), além do US. Marshall, Bass Reeves (Delroy Lindo). Já Buck, que controla sua própria cidade, tem ao seu lado Trudy Smith (Regina King) e Cherokee Bill (LaKeith Stanfield). Os nomes não são fictícios e cada uma traz consigo algumas ótimas histórias de faroeste. Do mesmo jeito que o elenco faz com que Vingança & Castigo seja imperdível.

Tudo bem, não é um história que já não tenha sido contada e nem vai trazer grandes surpresas, mas a competência do filmepassa pelo respeito e prazer em estar dentro do gênero.  Samuel bebe nas fontes clássicas do gênero para seus planos fechados à la Sergio Leone, mas sem nunca querer se apoderar daquilo. O tom é quase de gracejo e bom humor, como se tivesse um exagero por trás daquilo e quase uma piscadela para os fãs do gênero.

Vingança & Castigo | Prova que o gênero ainda pode surpreender

O exagero ainda passa por tiros que jogam sangue para todo o lado, slow motion e personagens firmes. Esqueça o realismo sujo dos italianos, o longa é fino, impecável e estiloso. Muito estiloso.

Há algo de moderno e meio deslocado de sua época. As músicas vêm de outro século e o ritmo é tão próximo dos tempos atuais quanto pode ser sem recusar os clássicos. Mais ou menos o que Tarantino fez com Django Livre, mas com mais vontade de ser um filme classudo sobre o velho oeste e que é um presente para os fãs.

O capricho estético ainda passa por uma direção de arte de Martin Whist que já tinha assinado o design de produção de O Segredo da Cabana e Maus Momentos no Hotel Royale, ambos com a mesma capacidade de criação de mundo que acabam sendo uma das melhores coisas dos filmes. Em Vingança & Castigo isso se repete.

Tudo parece feito nos mínimos detalhes, desde as roupas e personalidade de cada personagem impressa em suas peças de vestimenta, até os cavalos, armas e cenários. A “cidade de brancos” é uma piada incrível e uma ideia impagável, mostrando que, tanto Whist, quanto Samuel, estão em sintonia dentro do filme que querem fazer. E tudo funciona em harmonia.

Samuel ainda assina o roteiro com Boaz Yakin, o resultado, mesmo não sendo uma história muito criativa, entende as referências (o gênero adora essas reviravoltas melodramáticas) e tempera tudo isso com diálogos deliciosos e que são uma oportunidade ótima para o elenco exagerar e se divertir (claramente) com cada linha do roteiro. Sem desperdiçar nunca o quanto Idris Elba valoriza qualquer personagem e sempre faz a gente lembrar o quanto um olhar dele vale mais do que algumas dezenas de linhas de roteiro.

Mesmo sendo apenas mais um dos inúmeros filmes de faroeste, Vingança & Castigo tem pretensões de ser um faroeste diferente, divertido, cheio de estilo e com esse elenco impecável. É “só um faroeste”, mas ainda assim é um daqueles exemplos de que o gênero ainda pode render bons frutos. Esse é um desses “bons frutos”.


“The Harder They Fall” (EUA, 2021); escrito por Jeymes Samuel e Boaz Yakin; dirigido por Jeymes Samuel; com Jonathan Majors, Edi Gathegi, Damon Wayns Jr.Woody McClain, RJ Cyler, Danielle Deadwyler, Zazie Beetz, Regina King, LaKeith Stanfield, Idris Elba e Delroy Lindo.


Trailer do Filme – Vingança & Castigo

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