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Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos | Visual talvez salve toda bagunça… ou não

Existem duas coisas inegáveis em Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos (além do subtítulo longo e ruim): sua beleza e sua bagunça. A primeira vinda às custas de algumas centenas de milhões de dólares; a segunda, às custas de alguns milhões de fãs e do excesso de respeito com a obra original.

Para quem não sabe, Warcraft é um famoso jogo de video-game (de computador, na verdade!) que desde 1994 vem acumulando uma legião de viciados, o que permitiu que a Blizzard (empresa que criou-o) expandisse seu mundo para tudo quanto era mídia (livros, jogos de tabuleiro etc). E parafraseado o Tio Ben, esse monte de fãs traz muitas responsabilidades, e isso deu ao jovem diretor Duncan Jones 160 milhões para brincar de fazer cinema.

E aqui abrindo um parênteses para citar parte do dinheiro da China nesse negócio, o que garantirá um retorno muito maior fora de casa para o filme, já que nos Estados Unidos e em grande parte do mundo ocidental, é difícil uma bagunça como essa consiga vencer o boca-a-boca negativo.

A “bagunça” já citada duas vezes, vem de um roteiro escrito pelo mesmo Jones em parceria com Charles Leavitt (que entre outros trabalhos tem o recente O Sétimo Filho). Um texto quem nem peca por falhas técnicas nem buracos, mas tem o poder de ser completamente desinteressante. Além das motivações que já moviam os jogos (vulgo atacar a vila do outro jogador), nada empolga, tudo se arrasta em meio a personagens demais que não se entendem e, ainda por cima, acaba tratando mal demais seus protagonistas.

No caso, Durotan, um Orc que chega ao reino dos humanos junto com sua horda de companheiros com o objetivo simples de procurar e destruír, mas uma crise de consciência e a vinda de seu primogênito o fazem repensar o caminho de seu líder Gul´Dan. Do outro lado da equação, Travis Fimmel (da série Vikings) é Aduin Lothar, líder do exército (ou algo do tipo!) do rei Llane Wrynn (Dominic Cooper), que acabam tendo que enfrentar a invasão desses seres desconhecidos.

Sim, o subtítulo nacional está ai para ninguém ter dúvida desse tipo de detalhe (se é que alguém tem), mas o mais importante é que o filme ainda de um mago vivido por Ben Foster e uma “meio-orc” Paula Patton, dois personagens que acabam se tornando importantes, mas sem serem muito interessantes e até subdesenvolvidos demais para o tamanho que tomam dentro da trama. E ai começa a bagunça. Sem os dois protagonistas envolvidos nos momentos mais climáticos da história, o que resta é apenas aquela imagem aérea dos locais sendo invadidos e grandes tropas de diminutos soldados e orcs brigando por seu território. Exatamente igual ao jogo, diga-se de passagem, mas um pouco igual demais.

Warcraft Crítica

E esse respeito ainda deve passar pela trama, pelos personagens e situações, já que os não iniciados têm a impressão de estarem vendo uma história onde a importância ou relevância de cada um que surge na tela vem de algum lugar de fora da sala do cinema. Pior ainda, quando você começar a se acostumar com eles, sobem os créditos e você percebe que estava vendo o presunçoso primeiro capítulo de uma saga que nem deve chegar ao segundo filme (OK, as bilheterias na China devem garantir isso!).

Warcraft soa inacabado, e só não é um desastre to tamanho de um Orc, por fazer um trabalho incrível com essas criaturonas vindas de sei lá onde além daquele portal. Não é exagero dizer que desde o Avatar de James Cameron (não o do Shyamalan!) que o espectador não é convencido desse jeito da existência de uma criatura inteiramente composta de pixels. E Duncan Jones tanto sabe disso que não economiza sequer um close em Durotan e em toda sua complexidade. E isso ainda vai de encontro a um dos acertos do roteiro (talvez o único), já que todos orcs são desenvolvidos à fundo, tanto em suas motivações pessoais, quanto em sua separação social, tradições e veracidade. É muito mais fácil acreditar na existência deles do que na dos humanos.

E falando em Shyamalan, é bom lembrar que Wacraft ainda surge como um ponto fora da reta de Duncan Jones tão grande, ou até maior, do que O Último Mestre do Ar foi nos planos do diretor de O Sexto Sentido. Jones (que para quem não sabe, é filho do recém falecido David Bowie) vem de dois filmes menores e quase introspectivos com seus personagens, os incríveis Lunar e Contra o Tempo, o que talvez tenha servido de treino para seu trabalho em “Warcraft” ser tão bonito quanto é. Mas também, talvez, não tenha lhe dado experiência suficiente para abraçar esse mundo que poderia ser épico em seus combates, mas acaba sendo só um trabalho sem ritmo. Sem vida.

Agora, se mesmo assim com toda bagunça Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos receber uma segunda chance de terminar de contar sua história nos cinemas, talvez ai teremos a chance de ver toda essa beleza atrelada a um filme que faça mais sentido.


“Warcraft” (Chn/Can/EUA, 2016), escrito por Duncan Jones e Charles Leavitt, dirigido por Duncan Jones, com Travis Fimmel, Paula Patton, Ben Foster, Dominic Cooper, Toby Kebbel, Ben Schnetzer, Clancy Brown e Daniel Wu


Trailer – Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos

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