X - A Marca da Morte | Crítica do Filme | CinemAqui

X – A Marca da Morte | Não espere um slasher de quinta categoria

X – A Marca da Morte é um terror que cria seu clima usando outro gênero. E ele o faz por tanto tempo que quase sentimos o gostinho de estar fazendo parte de um slasher com sentimentos e opinião. Os discursos ocasionais que surgem da boca de personagens improváveis em sua época, e por isso mesmo soam artificiais, são tão divertidos quanto pertinentes hoje em dia. Além desse divertido jogo de cena, também existem as cenas de sexo que nem mencionei, nem mencionarei. Não é tempo para isso.

O roteiro de Ti West, que também dirige e produz esse filme, é redondo, intenso e convidativo. Ele chama o espectador para um bate papo descontraído situando sua história no saudoso ano de 1979, logo no final da era do amor livre e início do momento em que devemos ir além. As pessoas já entenderam o recado dos hippies e estão prontas para explorar a própria sexualidade no conforto do lar. É nisso que aposta o produtor de filmes independentes da história, que reúne duas belas garotas (uma delas é a própria esposa) e o ator, um garanhão pronto para brilhar em um pornô diferentão: com história, diálogos e atuações.

Pelo menos isso é o que acha o cinegrafista do projeto, que encontra a racionalização perfeita para dizer que está “filmando arte” enquanto aponta a câmera para a ação regada a gemidos e apenas para maiores. Mas não se preocupe, pois não há sexo explícito, e o diretor do filme dentro do filme é um alívio cômico pontual em meio a uma atmosfera pró-sensualidade irrestrita usada como bandeira para a sanidade social que atinge o âmago das pessoas e sua suposta integridade moral.

A época do fim dos anos 70 está certa porque os filmes que contratavam o status quo vieram de lá, mas não só por isso. O filme contém uma sempre presente metalinguagem, algo inevitável quando ele começa a misturar gêneros e se rotular como uma versão consciente de Psicose, clássico de suspense de seu mestre Alfred Hitchcock, e não Um Drink no Inferno, diversão inconsequente de Robert Rodriguez.

A trilha sonora comenta com seu extremo bom gosto o quão comprometido o filme está em se apaixonar pela visão da época hoje em dia. Até demais: a qualidade é excelente, mas sua diversidade e rapidez na troca de temas evidencia nossa era Spotify, que se preocupa com quantidade sobre qualidade, mesmo que as músicas sejam de fato muito boas. É o ritmo e o tom eclético que incomodam por serem antinaturais.

X - A Marca da Morte | Não espere um slasher de quinta categoria

Outro traço artístico que saiu de moda, mas aqui é quase necessário, são essas divisões de tela que narram gerações separadas no tempo enquanto promove comparações de valores e de momentos. Nostálgico e melancólico, apresenta um casal de velhinhos decrépitos que já passou do prazo de validade de se divertir, e quem envelhece (de verdade, não os posers que desejam se manter para sempre descolados!) certamente se identificará. Faz pensar em como viver o momento nos faz cair nessas armadilhas da vida.

Os vilões desse filme não chegam a ser tridimensionais, mas seus estereótipos possuem uma alma perene demais para ser ignorada. E isso é valioso quando eles começam a tocar o terror. Torcemos por eles. Isso é errado? Pode ser. Mas torcemos para os mocinhos e moçoilas também, o que torna as emoções mais complexas. Não espere um slasher de quinta categoria. Esse está mais para uma terceira, e com sorte passará no teste do tempo como um exemplo de como fazer um filme de gênero e se tornar inesquecível pela pureza das intenções.

O slasher em si é eficiente e gráfico. O uso da noite sempre favorece os efeitos visuais. Os cortes rápidos também. Não há muita tortura para os que não gostam de olhar. Basta virar a cara algumas vezes. Já para os que gostam, tenho boas notícias para você: sabe quando alguém pisa em um lindo prego no chão com o pé descalço? Está lá, e um pouco mais do que isso. Há uma certa homenagem à escatologia também, o que me faz lembrar Arraste-me para o Inferno, aquele terror divertidíssima dirigido por Sam Raimi depois que ele se cansou dos primeiros filmes do Homem Aranha.

Bom, torçamos por Ti West e sua frente slasher de qualidade. Não é pelo “neo terror” ou qualquer nome apelativo do gênero. É pelo bom e velho susto que logo antes leva à reflexão. Ou à loucura. West é um cineasta que soube aqui equilibrar todas essas emoções muito bem.


“X” (EUA/Can, 2022); escrito e dirigido por Ti West; com Mia Goth, Jenna Ortega e Brittany Snow.


Trailer do Filme – X – A Marca da Morte

https://www.youtube.com/watch?v=bF9EhNvKbpo

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