Zoom Filme

Zoom | Metalinguem, animação, HQs, modelos e bonecas eróticas

Um filme composto por três núcleos, envolvendo personagens centrais que, cada um a sua maneira, contam a história um do outro — é dessa forma que Zoom conecta seus três protagonistas, em um formato que permite uma linguagem irreverente, dinâmica e extremamente metalinguística. Brincando também com as convenções dos gêneros que explora, o longa se revela uma produção divertida e envolvente.

Emma (Alison Pill) é uma jovem mulher comum que, trabalhando em uma fábrica de bonecas sexuais hiper-realistas, passa seus dias frustrada por não ser voluptuosa e sensual como elas. Para se libertar de sua realidade pacata, Emma começa a escrever uma graphic novel que acompanha “o homem dos seus sonhos” — o charmoso e arrogante cineasta Edward (Gael García Bernal), famoso por blockbusters de ação que, agora, quer mostrar sua sensibilidade e talento com um drama mais profundo.

O tal filme acompanha Michelle (Mariana Ximenes), brasileira que emplacou uma carreira como modelo no exterior, mas quer ser escritora. Ela, então, se muda para a praia carioca em que seus pais se conheceram com a esperança de conseguir inspiração para terminar seu livro — que conta a história de… Emma, uma jovem mulher comum que trabalha em uma fábrica de bonecas sexuais.

Dessa forma, Zoom, co-produção entre Brasil e Canadá, salta entre uma trama e outra de forma ágil e dinâmica — graças, claro, às habilidades do diretor Pedro Morelli e do montador Lucas Gonzaga. Acompanhando três núcleos distintos em que os personagens não apenas se conectam uns aos outros, mas controlam uns aos outros, o formato oferece possibilidades ilimitadas para os cineastas explorarem a linguagem — e eles aproveitam a oportunidade.

Assim, se a trama de Emma inicia com tons de comédia dramática, ela logo ganha requintes de thriller — enquanto isso, o drama de Michelle se transforma no mais batido filme de ação, o que permite, também, a exploração das convenções do gênero. Edward, protagonista de uma história contada em animação, tem ainda mais liberdade e, portanto, é o que mais transita entre os gêneros. A animação, aliás, é excelente ao imitar o estilo da graphic novel de Emma — aquele universo e seus personagens vão ganhando cores e traços mais definidos aos poucos, conforme Emma vai desenvolvendo e aprimorando seu estilo enquanto artista.

Zoom Crítica

O roteirista Matt Hansen, por sua vez, diverte-se imensamente ao investir em diálogos metalinguísticos — ao discutir suas aspirações artísticas, Edward declara estar “ansioso para mostrar ao mundo que não sou bidimensional”; já no terceiro ato, quando a influência de um personagem sobre o outro atinge o ápice, Emma exclama, frustrada, que “tudo está muito estúpido agora”, referindo-se às mudanças (aparentemente) sem sentido no desenrolar da trama.

Reconhecendo que o fato de um personagem ser criação do outro significa que nenhuma das três tramas pode ser real, Zoom desafia o espectador nesse sentido — afinal, estamos vendo um filme e, portanto, é claro que nada daquilo é verdadeiro. Mas, afinal, isso não importa, não é mesmo? Enquanto acompanhamos aquelas pessoas, nos importamos com elas e, portanto, suas histórias se tornam verdadeiras durante aqueles poucos mais de 90 minutos.

Liderado por um elenco carismático e talentoso que abraça a linguagem do filme, Zoom é eficiente ao conseguir manter o desenvolvimento de seus personagens mesmo em meio às mudanças de estilo e desenrolar da trama — que, além disso, também discute de forma interessante a forma como as expectativas dos outros e as convenções podem nos prender. Isso tudo resulta em uma conclusão excelente, que parece saber o exato momento de terminar o filme — não sem antes incluir, logo após o plano final, uma última piada metalinguística (que funciona muito bem).

Zoom é, portanto, uma obra divertida e envolvente que — através de três personagens que buscam, nas ficções que criam, uma forma de expressão e autoconhecimento — celebra o poder das histórias e a importância de nos aceitarmos.


“Zoom” (Brasil/Canadá, 2015), escrito por Matt Hansen, dirigido por Pedro Morelli, com Alison Pill, Gael García Bernal, Mariana Ximenes, Claudia Ohana, Jason Priestley, Tyler Labine e Jennifer Irwin.


Trailer – Zoom

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