Depois do sucesso de 2 Filhos de Francisco seria normal que o diretor Breno Silveira tentasse, ou escolher um trabalho em que pudesse colocar sua assinatura ou fazer com que seu nome acabasse sendo mais importante que o título do filme. Infelizmente, À Beira do Caminho (depois do fraco Era uma Vez…) parece seguir no limite entre essas duas opções, um limite que não permite que o filme decole, tampouco (felizmente) chateie.
A ideia é boa, e é lembrada durante os créditos finais: fazer um filme inspirado pelas canções de Roberto Carlos. E é inegável que, enquanto a voz do Rei da Jovem Guarda embala esse caminhoneiro rumando pelo Brasil, esmagado pela dor de uma perda, até que encontra um garoto em busca do pai, o filme funciona perfeitamente. Funciona tão bem que é só isso ser colocado de lado para o filme perder grande parte de sua força.
Ser apresentado para esse caminhoneiro João (João Miguel, de Estômago, em mais de um de seus momentos sensíveis e que valem o filme) ao som de A Distância, somente rodeado por uma estrada de terra e a solidão faz qualquer um no cinema perceber a dor dessa perda que o move (“O que restou do nosso amor…”). Assim como Amigo é o acompanhamento perfeito para o exato segundo em que o garoto Duda (o pouco simpático Vinicius Nascimento) conquista o “impenetrável” motorista. O Portão ainda pontua certos retornos e Outra Vez marca o amor da personagem (apagada) de Dira Paes, tudo em um esforço narrativo interessante, mas que não perdura pelo tempo que o espectador merecia.
E ainda que o resto da trilha (de Breno Crespa) seja equivocado e óbvio, o que mais faz falta é escutar o Rei cantando, principalmente, quanto mais o filme chega perto de seu final. Como se Silveira tentasse se desvencilhar dessa relação óbvia que seu nome traria caso se ligasse mais uma vez, um “fundo musical” diretamente a seu filme, o que nem de perto seria um problema, como mostra o começo do filme. Ironicamente, bem diferente do que aconteceu em 2 Filhos de Francisco, que parecia forçar demais a presença das músicas da dupla sertaneja dentro da trilha. De modo bem mais inteligente, o diretor permite que Roberto Carlos seja cantado pelo menino, faça parte da trila incidental, toque no bordel e etc., como se não houvesse limite para introduzir essa inspiração naquele mundo. E perder essa dinâmica impede que seu filme termine tão interessante quanto começa.
Do outro lado, sem muita criatividade, o roteiro de Patrícia Andrade (que recentemente não vem emparelhando bons momentos em Besouro e Salve Geral) acaba fazendo só aquilo que é esperado (mais uma vez), se apoiando na amizade desses dois personagens e apostando apenas na criação dessa “paternalidade de estrada”. Mesmo que isso não surpreenda ninguém, e ainda faça ser impossível não lembrar de Central do Brasil (mesmo que geograficamente ao contrário, é verdade), o que, obviamente, fragiliza ainda mais seu filme (já que é covardia ser colocado ao lado da obra de Walter Salles).
Alguns diálogos fracos e reações exageradas de todos personagens (para criar alguns conflitos descartáveis) ainda poderiam prejudicar mais ainda o filme (assim como o vazio de algumas placas de caminhões que surgem vez ou outra), mas são compensadas pelo trabalho honesto de Silveira. Principalmente ao tentar fazer um filme muito mais objetivo do que teria a obrigação.
Mesmo com seus momentos delicados, como o baú fechado com seu passado na traseira do caminha (vazio à suas costas) e a carga de melões (amarelos e cheios de esperança) que lhe permitem encontrar seu objetivo (o do menino é colocar a foto de um “novo pai” sobre a do antigo e o de João é voltar a ser aquele pai da cabeceira de sua filha), o maior esforço parece ser o de construir esse cenário suficientemente bem para lhe permitir seguir o apelo popular de sua inspiração musical.
Silveira então entrega esse filme tremendamente popular (e desde quando isso é ruim?), com flashbacks tristes para mostrar o trauma do personagem e ainda um final “feliz para sempre”. Tentativa que acaba repetindo as ambições de 2 Filhos de Francisco, mesmo sem uma história tão interessante e emocionante quanto a de Zezé de Camargo e Luciano (o que torna muito mais difícil seu trabalho), mas que, ainda assim, consegue fazer o que se propõe: contar uma história sobre aprender a ser pai.
À Beira do Caminho(Bra, 2012) escrito por Patrícia Andrade , dirigido por Breno Silveira, com João Miguel, Dira Paes, Vinicius Nascimento, Ludmila Rosa e Ângelo Antônio.
Trailer
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Roteiro meio fraco, porém emocionante.