A Bolha (Netflix) | Crítica do Filme | CinemAqui

A Bolha | Quem é a piada?

No novo filme de Judd Apatow estreou no dia 1° de abril. Isso quer dizer que talvez ele seja uma piada. Mas piada precisa ser engraçada. A Bolha não é. A não ser que a ideia seja fazer uma comédia que não tem graça para fazer uma piada com isso. De qualquer jeito, sem um manual de instruções, o resultado é só uma piada sem graça.

Talvez até uma piada que muita gente vai achar meio fora do lugar, já que tira humor (tenta) da epidemia de Covid-19 ao mesmo tempo em que cutuca a indústria de Hollywood e se esforça para expor alguns de seus lados mais ridículos. A primeira parte não funciona… a segunda também não. Mas a ideia é boa.

“Fera do Abismo” é a 23° maior franquia do cinema e está indo para seu 6° filme, que terá que ser todo filmado durante a pandemia de Covid, consequentemente, com seus astros dentro de uma bolha em um grande hotel perto de Londres. Isso então se transforma em elenco cheio de caras conhecidas que precisam lidar tanto com o surto psicológico de cada um, quanto com uma produção que parece não acabar e um filme que, talvez, seja uma das coisas mais ridículas do mundo (a única coisa engraçada de A Bolha talvez seja o final de “Fera do Abismo 6”).

O roteiro é de Apatow com Pam Brady, que já assinou coisas como South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes e Team America, o que cria ria uma expectativa enorme, mas em vão. Ainda que seja fácil perceber o estilo caótico dela, é realmente difícil entender onde o dedo de Apatow começa. Principalmente vindo recentemente de um filme tão “maduro” quanto A Arte de Ser Adulto. A Bolha é talvez seu trabalho mais imaturo, preguiçoso, desrespeitoso com seus fãs e (salientando), sem graça.

O filme realmente se diverte com os estereótipos dos personagens, trabalha bem o ridículo de tudo que está ao redor do filme. Do elenco exótico e cheio de privilégios, até as imposições do estúdio e um diretor (Fred Armisen) que fica entre a excentricidade e a maluquice. O filme começa tentando acompanhar a estrela Carol Cobb (Karen Gillan), que volta à franquia depois de não ter feito o filme anterior, mas em pouco tempo nada disso mais importa e o filme derrapa nas próprias intenções.

A Bolha | Quem é a piada?

Tudo fica caótico demais, mas não um “caos divertido” (que a roteirista é especializada), mas sim só uma bagunça com uma montagem ruim e um ritmo que parece não saber o que quer. Talvez o filme pudesse ser sobre a quarentena e os atores ficando mais malucos. Talvez fosse até sobre a produção de um filme obviamente ridículo. Nada disso vai em frente e quando o espectador menos espera será atingido por vómitos, diarreia, piadas sem graça, tiro explodindo mão e dancinhas para o Tik Tok.

Mal realmente os atores parecem estar se divertindo, mas só eles mesmo. Do lado de cá da tela, só resta desespero para o filme acabar e o espectador poder fazer qualquer outra coisa.

Talvez falte uma cola, os personagens surgem e se vão soltos demais. É lógico que estão dentro de um mesmo local narrativo, mas nunca estão juntos para contar uma história ou entender o que precisam fazer para acompanhar as ideias do diretor ou do roteiro. Nada parece fazer sentido e chega a um ápice que beira o amadorismo, com uma perseguição sem a menor capacidade de fazer sentido e (mal) copiando um cinema de comédia mais antigo e onde não era preciso tanta continuidade ou estrutura. Mas esse tempo passou e o que é homenagem agora soa como erro.

No meio desse desperdício todo, David Duchovny, que tem uma veia cômica (sarcástica) ótima, é completamente desperdiçado, assim como o simpático Samson Kayo (das séries Truth Seekers e Nossa Bandeira é a Morte), que é completamente jogado fora. Isso sem contar a presença da indicada ao Oscar pelo último filme de Borat, Maria Bakalova, que é tão jogada fora no filme que nem nome sua personagem tem.

E A Bolha é tão ruim que talvez seja proposital tudo isso. Um jeito de discutir a fragilidade da indústria cinematográfica e do quanto o público talvez consuma muito mais coisas ruins do que conseguem lidar, fazendo com que a qualidade não seja mais um quesito esperado. Nem a continuidade. Nem um elenco bom ou uma direção capaz.

Talvez o filme seja uma grande piada de Judd Apatow e Pam Brady. O problema é que nos outros filmes da dupla todo mundo entendia suas intenções, mas em A Bolha só sobra desastre. Se falta uma piscadela para o espectador e um convite para ele entrar nesse mundo de maluquices, o resultado é então uma piada de 1° de abril onde ninguém sabe que aquilo é realmente uma piada.


“The Bubble” (EUA, 2022); escrito por Judd Apatow e Pam Brady; dirigido por Judd Apatow; com Karen Gillan, Iris Apatow, Pedro Pascal, Leslie Mann, Vir Das, David Duchovny, Keegan-Michael Key, Fred Asmisen, Samson Kayo, Guz Khan, Maria Bakalova, Kate McKinnon.


Trailer do Filme – A Bolha

 

 

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