A Guerra do Amanhã | Junta tudo e chega em lugar nenhum


Chris McKay dirigiu 43 episódios do hilariante Frango Robô, série de animação do Adult Swin. Depois disso comandou LEGO Batman: O Filme. Portanto, agora com seu A Guerra do Amanhã é impossível achar que ele não fez o filme ser uma porcaria pretensiosa de propósito. Ou isso, ou o filme é realmente ruim.

A história beira o desespero narrativo, já que é uma premissa tão temporalmente sem pé nem cabeça que a discussão sobre a viagem no tempo em Vingadores Ultimato se torna inteligente (e não deveria, lá é uma piada com o “punch line” do Máquina de Combate). O roteiro é do mesmo Zach Dean de Um Dia Para Viver e A Fuga, e isso deve falar muita coisa sobre ele.

Mas McKay e Dean tiveram essa oportunidade de embarcar nessa ficção científica que é uma das apostas da Amazon Prime em 2021, por isso, os milhões em efeitos especiais, Chris Pratt e publicidade vão fazer muita gente aceitar melhor esse desastre que mais parece uma colcha de retalhos de outras coisas que você terá certeza já ter visto em algum lugar (De Volta para o Futuro, Exterminador do Futuro, Enigma do Outro Mundo, Alien etc.).

Nele, Pratt é um professor de ginásio com um passado de combatente militar e uma vontade enorme de se tornar um cientista. Ele e mais o resto do mundo estão vivendo suas vidas quando, no meio da final da Copa do Mundo de 2022 entre a Seleção Brasileira e um outro time que ninguém se importa, um grupo de soldados do Futuro interrompe a partida para explicar que chegam de algumas décadas do futuro para pedir ajuda. Ao que tudo indica, o mundo foi tomado por criaturas que eles não sabem exatamente de onde vieram, mas que estão dizimando a humanidade.

A ideia beira a completa falta de inteligência e estratégia militar: enviar a maior quantidade possível de pessoas para o futuro para ajudarem na frente de combate. Cada viajante cumprirá uma missão de sete dias, os que sobreviverem ao futuro, são automaticamente trazidos de volta. O problema é que, depois de esgotarem os soldados, é hora dos cidadãos comuns.

Não irá demorar muito para os jogadores de PlayerUnknown´s Battleground (o famoso PUBG) reconhecerem a ideia do pessoal chegando em um mapa desconhecido usando uma roupa que não estaria em um soldado. Mas os desenvolvedores do game não poderão processar os realizadores de A Guerra do Amanhã, porque isso passa rapidinho e quando você menos esperar (ou tiver certeza disso), apenas Pratt e seus “amigos” próximos estarão vivos no futuro. Mas também não se acostume a eles, pois eles irão sumir e voltar só no último terço do filme. Em um desfile de conveniências.

Mas sem muita pressa. Antes disso Pratt, que dá um duro enorme pelo personagem e até faz ele funcionar, mesmo tendo que repetir linhas e mais linhas de diálogo sem nenhuma criatividade, ainda descobre que pode ser a chave para o fim dessa guerra. Nenhuma novidade, muito menos no jeito como ele descobre isso, e ainda em como ele faz para ser a única esperança do Planeta Terra.

Felizmente, no futuro o diretor Chris McKay consegue tirar de letra a necessidade de entreter seus espectadores com algumas boas cenas de ação. As três maiores do filme estão nessa missão de sete dias, com uma infinidade de criaturas surgindo por todos os lados e os heróis distribuindo tiros. As três funcionam bem, McKay tem uma direção clara, dando sempre preferência para os dias claros e que valorizam o trabalho irretocável do pessoal dos efeitos especiais que acertam, tanto na construção daquele mundo, quanto nos monstros.

Com isso em mente, mesmo em um filme mais logo do que deveria, as quatro grandes cenas de ação que estão lá para vender o filme para seus espectadores são mais que suficientes para agradar o público. Principalmente aqueles que não se importarem com tudo aquilo que está entre elas. Tudo bem, é difícil ignorar tudo, mas há quem consiga. Para esses, A Guerra do Amanhã é ótimo. Para os outros… bom, sobra achar que é tudo uma grande brincadeira de McKay.

As ideias por trás desse terceiro momento do filme beiram o estapafúrdio. Tudo é movido por planos onde a câmera fecha na cara de Chris Pratt enquanto ele repete algo parecido com um “isso é completamente inesperado, mas eu tenho a solução para isso tirada de um diálogo expositivo lá do primeiro ato”. E isso vai desde uma carona para a Rússia, até um conhecimento extraordinário em vulcões.

Tudo bem, isso pode não parecer um problema tão grande para o filme, e talvez nem seja, mas é impossível não ficar irritado com a preguiça narrativa de colar alguns bons personagens e ótimas cenas de ação dentro de um roteiro que, até tem uma ideia interessante, mas não consegue acertar em absolutamente nenhuma motivação para empurrar a trama para frente. Nada soa original e tudo parece uma piada. Talvez McKay esteja por trás da câmera piscando para seus espectadores engatando um senso de humor frio e cara de pau, como no Frango Robô.

Não está. Na verdade, está só fazendo aquilo que os blockbusters de ação do cinema mais gostam de ser: cópias meio burrinhas, mas com um visual que engana o público e faz o pote de pipoca acabar rapidinho.


“The Tomorrow War” (EUA, 2021); escrito por Zach Dean; dirigido por Chris McKay; com Chris Pratt, Yvonne Strahovski, J.K. Simmons, Betty Gilpin, Sam Richardson, Jasmine Matthews e  Edwin Hodge.


Trailer do Filme – A Guerra do Amanhã

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