Com o custo de US$200 milhões para os cofres da Netflix, Agente Oculto se torna o filme mais caro do streaming/estúdio. A produção bate o recorde de Alerta Vermelho, aquele dos três ladrões bonitões que você já deve ter esquecido. E isso quer dizer que logo você deve esquecer desse aqui também.
Mas isso não quer dizer que esse seja tão ruim quanto aquele, na verdade, mesmo diante de todo vazio de ideias, Agente Oculto funciona. É divertido, tem um visual bacana, cenas de ação empolgantes e um exagero típico de um blockbuster. Mas é um passatempo frágil e mais um filme de ação descartável bancado pela Netflix apenas para demonstrar o quanto consegue fazer filmes de ação gigantes.
E esse é gigante mesmo. Por mais que grande parte desse dinheiro todo tenha ficado no bolso do trio de protagonistas e na conta dos diretores (os Irmãos Russo, mesmos dos últimos Vingadores), o que não está com eles está, com certeza, nas viagens pelo mundo inteiro e nos letreiros enormes que apontam as cidades, nas balas de festim, nas explosões e no aluguel dos drones. Sim, os Russos descobriram os brinquedinhos voadores e eles estão por todo filme.
Não há chegada em nenhuma cidade sequer que não seja precedida por enormes letras na tela e um plano comandando por um drone que sobrevoa o lugar e mostra que a equipe está realmente naquele lugar. E se em Alerta Vermelho esse monte de viagens já parecia aleatório, aqui isso só mantêm essa mania das produções da Netflix. O enorme tiroteio em Praga é incrível, empolgante e divertido, mas podia ser em absolutamente qualquer outro lugar do planeta. Mas sim, Praga é mais bonita, então que fique por lá mesmo.
O problema é que é difícil entender (e acompanhar) a razão dos personagens pularem para todos esses lugares. Todos em busca de Seis (Ryan Gosling) um operativo de um tal Programa Sierra, um grupo de agentes da CIA que não existem, mas que estão sempre prontos para resolver alguns problemas que a burocracia da Agência não permite que seus “funcionários” o façam.
Mas durante uma missão, Seis encontra o Quatro e descobre aquilo que todo agente devia desconfiar, a CIA é a vilã e um pen drive faz com que ele agora se torne o alvo desse diretor inescrupuloso e que está usando a CIA para interesses próprios. Entra então em cena o homem de confiança do vilão, o mercenário excêntrico Lloyde Hansen (Chris Evans) para perseguir Seis.
O terceiro tripé de Agente Oculto é a presença de Ana de Armas como uma agente honesta da CIA que começa a ajudar Seis, mas ela tem pouco importância na trama. O que é um desperdício para o filme.
Ryan Gosling estreia seu primeiro herói de ação e não decepciona. Constrói um personagem entediante e seco, mas que age com a calma e a visceralidade de um brucutu clássico. Já Evans tem mais sorte com o personagem e se permite extrapolar um pouco a expectativa e criar um vilão divertido, exagerado, violento e que não se permite nunca sumir em cena. Por fim, um detalhe legal para os brasileiros é a presença curta, porém marcante e divertidamente estereotipada de Wagner Moura.
Mas Inimigo Oculto é da dupla de antagonistas, principalmente porque o objetivo dos Irmãos Russo é criar essa caçada de gato e rato onde os dois são os lados de uma moeda. E o objetivo é tão claro que em nenhum momento os diretores escondem todos aqueles clichês do gênero na hora de fazer os adversários se cruzarem no fiapo de roteiro do filme. E isso chega à solução preguiçosa de uma luta entre os dois, ao nascer do sol e que podia ter sido evitada com um tiro na testa do vilão e 20 minutos a menos de filme. Mas a cena é boa, então o público pode torcer o nariz para “mais uma luta”, mas logo irá esquecer isso e curtir os socos e chutes.
E talvez isso seja o que mais ajude Agente Oculto a não incomodar muita gente: a ação. Enquanto os Russo não estão viajando por aí com seus drones, suas cenas de ação são empolgantes, grandiosas e frenéticas. Funcionam focando no público alvo que só quer mesmo é um filme de ação descartável e cheio de ação.
Agente Oculto não tem absolutamente nada de novo, mas é divertido. Não tem camadas ou qualquer coisa que desafie a inteligência do espectador, mas tem um monte de estrelas de Hollywood, dinheiro para viajar pelo mundo inteiro, muita ação, tiros e, é lógico, drones.
“The Gray Man” (EUA, 2022); escrito por Joe Russo, Christopger Markus e Stephen McFeely; dirigido por Anthony Russo e Joe Russo; com Ryan Gosling, Chris Evans, Ana de Armas, Billy Bob Thornton, Jessica Henwick, Dhanush, Alfre Woodard, Wagner Moura e Regé-Jean Page.