Air – A História por Trás do Logo não é sobre um tênis, mas sim sobre um homem que se vê diante de uma encruzilhada na vida e descobre a possibilidade de arriscar tudo para fazer com que sua existência volte a fazer sentido, mesmo diante das apostas erradas da vida… Mentira, Air é sim sobre um tênis. Ou melhor, com maiúscula: O Tênis.
Para muitos especialistas, o Air Jordan não só é um dos tênis mais vendidos da história, como também o responsável principal pela cultura que envolve o calçado e esteve sempre ligada às quadras de basquete da NBA. Como é citado no filme, e uma frase que já entrou nos anais do assunto: um tênis é só um tênis até alguém calçá-lo. Nesse caso, o alguém era Michael Jordan.
Para chegar nele, Sonny Vaccaro (Matt Damon), espécie de olheiro da Nike nos anos 80, colocou tudo em risco, mas o resultado foi entrar para a história. O roteiro escrito por Alex Convery acompanha esses esforços que movimentaram todo mercado e ainda tiraram a marca do terceiro lugar, atrás da Adidas e Converse, para a posição de fenômeno.
Tudo bem, parece chato. Mais um filme que beira a autoajuda com o mapa para o sucesso. “Como a Nike Ganhou o Mundo”, ou algo do tipo. Cheio de frases de efeito e propaganda. Mas não é. Até tem um pouco de cada uma dessas coisas, mas o objetivo é muito mais entender a construção do símbolo com toda sua “história não contada”. Um drama ágil que se diverte com os bastidores desse acontecimento.
E isso tudo ganha ainda mais vida na mão de Ben Affleck. Se mantendo sendo melhor diretor do que ator, principalmente, pois o “Affleck cineasta” sabe como transformar tudo isso em uma experiência objetiva, emocionante, cheia de momentos climáticos e que ainda sabe exatamente a qualidade de cada ator de seu elenco. Suas composições são limpas e fáceis de olhar, como se tudo estivesse pronto, mastigado e leve para o espectador. Decisões estéticas que não são poderosas ou complicadas, apenas sabem onde cada coisa deve estar.
Talvez seja justamente essa economia e capacidade de sumir por trás da câmera que faça o trabalho de Affleck ser tão subestimado, mas o seu objetivo é sempre o mesmo: fazer filmes para serem aproveitados pelos espectadores pelo que ele são e histórias que querem contar. Seu formato nunca se sobrepõe ao conteúdo e isso faz de Air um daqueles filmes fáceis de seres vistos. Mesmo com algumas coisas que pudesse atrapalhar isso.
Em resumo, Air é um filme com muitos diálogos e reviravoltas sutis que acontecem em meio a suas falas, um olhar ou até apenas uma expressão. A câmera de Affleck não perde nenhum desses momentos e ainda é valorizada pela recriação de época divertida e que nunca tenta chamar mais atenção do que o resto do filme. O objetivo do visual é servir de imersão e nisso o design de produção é preciso. Depois do começo posicionando o espectador nos anos 80 com uma montagem de imagens da época e personagens que se tornaram símbolos daquele momento, o resto vem fácil.
O roteiro de Alex Convery flui fácil, ainda mais com pitadas da dupla ganhadora do Oscar, Affleck e Damon, que não assinam, mas estiveram por lá. O resultado disso é um elenco com falas fáceis à disposição. O resultado é preciso, ainda mais nas costas de gente como o próprio Damon, Jason Bateman e, é claro, Viola Davis, no papel da mãe de Michael Jordan, mas fazendo desse trabalho, mesmo ainda no começo do ano, já uma das atuações mais interessantes de 2023.
Viola Davis, mesmo com pouco tempo de tela, faz o suficiente para tornar Air ainda mais interessante e indicado. Affleck também faz. O roteiro de Convery completa isso. Air seria só um filme sobre um tênis, mas quem o “calça” faz a diferença. O resultado, mesmo com toda cara de propaganda da Nike, ainda faz com que o filme não se deixe ser sobre um tênis, mas sim sobre um símbolo.
