Certas Pessoas | Crítica do Filme

Certas Pessoas | Mais do mesmo

Ninguém mais aguenta aquele monte de comédias românticas iguais. Tudo bem, isso pode ser um exagero e muita gente ainda deve adorar ver a mesma história repetidas vezes com os personagens apenas mudando de carapaça enquanto os realizadores só tentam mudar a mesmice com um cenário diferente. Certas Pessoas faz tudo isso, mas ainda assim é só mais uma comédia romântica igual a um monte de outras.

E erra quem pensa que essa mesmice não pode ser mudada, o que não faltam são tentativas acertadas de fazer algo diferente. Coisas como Palm Springs, Podres de Ricos e Um Crime Para Dois estão aí para provar. Certas Pessoas não, por mais que tente.

O filme, que tem cara de veículo para celebrar o Jonah Hill em uma nova fase, é um roteiro do próprio ator em parceria com o diretor Kenya Barris, de poucos créditos na direção a não ser alguns capítulos da série Black-ish. É impossível ignorar isso, principalmente diante da cara de série que o filme tem, como se fosse só mais um episódio genérico com até umas inserções visuais para trocar de cena. O que, plasticamente falando, é um desastre.

Com certeza isso estraga o clima e desloca o espectador de onde ele deveria estar, naquele lugar onde uma história fraquinha como essa prestaria para o pessoal, pelo menos, se divertir com os poucos acertos do filme. Incluindo parte do elenco.

Mas a história é velha, Jonah Hill é Ezra um cara com seus trinta e poucos anos, um emprego estável e uma vontade enorme de largar tudo para cair de cabeça no seu sonho de ser podcaster com sua melhor amiga Mo (Sam Jay). Até que ele encontra Amira (Lauren London), os dois se apaixonam perdidamente e são felizes para sempre com esse “para sempre” sendo o momento em que eles precisam conhecer os pais de ambos.

Amira é uma mulher negra vinda de uma família de pais combativos e empenhados em questões raciais. Já Ezra, mesmo não praticante, é o filho mais velho de pais judeus com todos os clichês ligados à religião e ainda uma pitadinha de modernidade que os colocam em um lugar de vergonha alheia que ajuda a empurrar o roteiro para frente.

Certas Pessoas | Mais do mesmo

Tudo bem, você já deve ter visto esse filme, então é só esperar para dar algumas poucas risadas enquanto os mundos colidem. De um lado Eddie Murphy é Akbar, pai de Amira e que abraça essa personalidade cheia de frieza e raiva. Do outro, Julia Louis-Dreyfus, Shelley, não é uma mãe judia estereotipada, mas sim uma jovem senhora inconveniente e com uma grande vontade de ser a melhor pessoa que ela acredita ser o correto.

Shelley faz absolutamente tudo para colocar Amira nas situações mais constrangedoras possíveis. Akbar se mostra um especialista em terror psicológico e destrói o emocional do genro. No final das contas, cada um a seu jeito excêntrico e com intenções opostas, os dois novos sogros se esforçam para ser racistas e destruir o casamento dos protagonistas. Está aí a piada do filme.

Está aí também aquele momento já cansado onde os protagonistas preferem não conversar e resolver os problemas como adultos e se deixam entrar em conflito, afinal é preciso ter um terceiro ato. Nada de novo, tudo muito chato e previsível.

Julia Louis-Dreyfus e Eddie Murphy estão ótimos, mas o que poderia ser o melhor das famílias é David Duchovny, que não se leva à sério, mas tem tão poucos momentos em tela que é impossível não enxergar o desperdício.

Hill e Barris tentam amarrar tudo isso em lugar que discute os racismos em geral, mas também está dentro dessa estética moderna e contemporânea de podcasts, roupas coloridas, tênis ultra caros e profissões cheias de estilo. Nada em Certas Pessoas é “comum”, tudo tem jeito de caro e de estar sendo usado por uma classe mais alta do que qualquer problema social e racial real.

Não que isso seja um problema para o filme, mas sempre deixa a impressão de “problema de gente rica” sem dar risada disso (como Podres de Ricos, por exemplo). O que afasta ainda mais o espectador do filme. Isso e a falta de comédia e de romance.

Não porque ninguém mais aguenta as mesmas comédias românticas que seus realizadores podem simplesmente cometer os mesmos erros de sempre e esperar que seus espectadores admirem seus projetos. Tudo bem, podem e vão, mas isso é chato demais.


“You People” (EUA, 2023); escrito por Jonah Hill e Kenya Barris; dirigido por Kenya Barris; com Jonah Hill, Lauren London, Eddie Murphy, Julia Louis-Dreyfus, Sam Jay, Nia Long, Travis Bennett e David Duchovny


Trailer do Filme – Certas Pessoas

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