Se Clonaram Tyrone! poderia ser um sucesso, ninguém nunca saberá. Por alguns anos seu roteiro circulou por Hollywood como sendo um dos que mais criava expectativa de ser lançado. Mas isso, essa lista de “grandes expectativas”, foi em 2019. Agora, três anos depois e sendo um dos destaques de estreia na Netflix, o resultado é bem diferente.
Talvez pouca gente vá acreditar na sinopse esquisitona e misteriosa, sobre um “cara da quebrada” e envolvido com tráfico de drogas no sentido mais rasteiro das periferias dos Estados Unidos, Fontaine (John Boyega), que desconfia que está no meio de uma conspiração esquisita envolvendo clones dele. Para investigar isso ele tem a ajuda do cafetão Slick Charles (Jamie Foxx) e da prostitua Yo-Yo (Teyonah Parris).
O resto é uma mistura bem-humorada de um “blaxpoitation” que esbarra em uma ficção científica que aceita até momentos de terror. Tudo rumando ainda para uma trama que tem intenções sociais de discutir um “embranquecimento eugenista” que talvez demora demais para dar as caras no filme e não permitir tanto que a ideia seja discutida. Um escorregão que coloca o filme a perder, juntamente, pois fica difícil acompanhar a motivação dos personagens antes disso.
Um roteiro escrito por Tonny Rettenmaier e pelo diretor Juel Taylor parece tão preocupado com o mistério que esquece o quanto esse lado social poderia acrescentar camadas à diversão toda. Até porque, o roteiro é cheio de bons momentos, personagens divertidos e até algumas maluquices interessantes quando mergulha no sci-fi.
A direção de Taylor também segue bem a referência “blaxpoitation” e é um filme com cara de velho, todo granulado e que permite sempre que seus personagens brilhem diante de bons diálogos e um humor que carrega tudo para esse caminho divertidamente exagerado e que mergulha de cabeça quando quer quebrar as expectativas do gênero.
Mas tudo parece demorar demais para acontecer, mesmo com o ótimo trabalho do trio de protagonistas, que criam uma química incrível em tela e salvam boa parte da experiência. Foxx tem oportunidade de extrapolar o personagem pitoresco. Parris é ótima e claramente se diverte com a construção dessa mulher cheia de lados a serem explorados, tanto no humor, quanto em alguns momentos de drama mais para o final. Já Boyega encara o herói marrento e sem paciência. Ambos os três não se levando tão a sério e entendendo perfeitamente o clima que o filme pede.
E é quando tudo isso se une, mesmo com seus defeitos e falta de atitude, que Clonaram Tyrone! funciona melhor e irá acabar satisfazendo um público que se permitirá entrar no clima, acompanhar um pouco de suspense, dar umas risadas e até discutir um pouco a violência da sociedade e de seus protagonistas na hora de tentar dizimar as minorias, mesmo que, em certos momentos, isso signifique mostrar o quanto essas pessoas violentadas, quando unidas podem realmente mudar tudo.
Tudo bem, Clonaram Tyrone! tem seu charme e talvez cumpra boa parte das expectativas que seu roteiro provocava nos corredores de Hollywood. E isso é bom. Não é?
