O cinema em 2022

ESPECIAL | O Cinema em 2022

Em 2022 Top Gun Maverick se tornou o 49° filme na história do cinema a conseguir ultrapassar a barreiras de um bilhão de dólares nas bilheterias. Ainda no mesmo ano, Jurassic World – Dominação foi o 50° e, mesmo estreando só em dezembro, Avatar: O Caminho da Água fez mais dinheiro que os dois e fechou o ano como o 51° filme a destruir essa marca.

Avatar ainda não fechou um mês nos cinemas, portanto é só uma questão de tempo sair desses pouco mais de US$ 1,8 bilhão e chegar nos dois. Mas em termos de mundo, nem Tom Cruise, muito menos os dinossauros, ultrapassaram esse bilhão em cinemas fora dos Estados Unidos. Curiosamente, Avatar tem menos bilheteria dentro do que fora do seu país.

Se por um lado esses números significam uma “semi normalidade” do cinema e suas bilheterias pós-pandemia, talvez também aponte para outro detalhe ainda mais interessante: Hollywood, mais do que nunca, terá que lidar com o mundo.

Entre as oito maiores bilheterias do mundo em 2022, os “lucros estrangeiros” renderam US$ 2,5 bilhões para os cofres dos estúdios contra US$ 2,4 bilhões “domésticos”. Somente entre os oito, já que os dois últimos da lista são “dinheiros domésticos” de bem longe de Hollywood.

“Water Gate Bridge” e “Moon Man” têm títulos originais que eu não conseguiria escrever ou entender diante da minha ignorância com o alfabeto chinês. Juntos, os dois filmes fizeram mais de US$ 1 bilhão de dólares, ou (CN¥ 6 bilhões, em moeda chinesa). Ambos praticamente não tiveram distribuição fora do seu país de origem e devem acabar chegando pelo mundo com muito menos escarcéu em algum serviço de streaming e taxados como exótico pelos espectadores ocidentais por uma mistura de fetiche cinéfilo e ignorância.

É difícil e até irresponsável com qualquer tentativa de discutir esse assunto com clareza e apontar a presença de “filmes internacionais” nas listas de bilheterias dos últimos anos diante do período de pandemia, já que absolutamente todos números são distorcidos. Porém em 2021 “Hi, Mon” (que também deve ter um título original em chinês) ficou em terceiro na lista de 10 maiores bilheterias.

Hollywood está globalizada e quem não perceber isso está fadado a ter que dormir com esse barulho.

Desde de 2017, sempre houve um ou mais filmes chineses na lista de maiores bilheterias do mundo. Desde muito antes disso os números dos cinemas do mundo inteiro representam mais do que apenas os números de dentro dos Estados Unidos. Portanto, o cinema não vê uma fase, mas sim uma realidade. É preciso contar com espectadores para além do território do Tio Sam. Por isso mesmo, não existe ingenuidade na hora de perceber isso dentro do próprio cinema americano, Hollywood está globalizada e quem não perceber isso está fadado a ter que dormir com esse barulho.

Não à toa, das 10 maiores bilheterias do ano somente um dos filmes não é uma sequência ou adaptação de material prévio. Apostar em um material original que abrace todo mundo é muito mais complicado do que encher a fila de fãs de quadrinhos e gente que já se divertiu com um primeiro filme dessa ou daquela saga ou franquia.

Para se ter uma ideia, a última vez que um filme que não era uma adaptação de HQ, remake ou continuação esteve entre as maiores bilheterias do mundo foi em 2016, a animação Zootopia. No ano anterior (2015) Divertida Mente e Perdido em Marte cravaram suas garras no top 10 também somente para comprovar o quanto o cinema ruma, cada vez mais, para um lugar que precisa ser repensado e analisado.

Isso não diminui ou coloca em jogo a qualidade do trabalho artístico e comercial de gente como a Marvel, James Cameron os heróis da DC e dinossauros maltratados da Universal. O modelo de produção da Marvel continua sendo algo que mudou a história do cinema, Cameron não deixa que nenhum projeto seu seja menos do que o mais esperado do ano e isso tudo se estende para o cinema como indústria e a necessidade de ver os resultados nas bilheterias bancando os investimentos. Mas quando é só isso, talvez seja preciso dar um passo para trás e tentar entender o cenário mais amplo.

Esse olhar não deve criminalizar o sistema, mas sim enxergar esse paradoxo onde o espectador não terá acesso àquilo que gostaria, muitas vezes, pois nem imagina o que realmente gostaria. Isso significa que os espectadores precisam encontrar esses filmes em algum lugar. Talvez os serviços de streaming sejam uma oportunidade. Por outro lado, todo começo de ano o mundo do cinema respira um monte de listas de melhores filmes do ano anterior e ainda uma temporada de premiações. Pescar nesse mar de oportunidades é uma opção que não deve nunca ser colocada de lado.

Hollywood vai cada vez mais entender que o mundo não acaba entre o Canadá e o México, mas isso não será suficiente para entregar aos fãs de cinema pelo mundo tudo aquilo que eles mereceriam receber. A indústria que mais investe em cinema no mundo não irá ser “derrotada” por nenhum império de cinema de outro país, muito menos os streamings irão colocar em perigo as bilheterias. A poeira dessas novidades irá baixar e tudo voltará ao normal, mas a um custo que pode ser mais pesado do que deveria.

É preciso ir além das bilheterias e decisões de marketing pulando na tela de sua TV. O cinema não irá morrer, mas para permanecer saudável e novo, é preciso desbravar o que está por trás daquilo que está sendo enfiado goela abaixo como um balde de pipocas cheio de manteiga.

Chegando até aqui, talvez esse texto tenha começado como uma pequena introdução para a minha lista de melhores do ano e se transformou em mil palavras tentando entender o cenário atual do cinema, mas a intenção é a mesma: entender 2022. A lista deve sair logo mais, mas é importante já tentar começar a pensar a respeito do cinema que queremos e do cinema que temos. Duas coisas bem diferentes.

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