Indiana Jones e a Relíquia do Destino | Uma homenagem à altura

Indiana Jones e a Relíquia do Destino - Crítica do Filme

O maior acerto de Indiana Jones e a Relíquia do Destino é ele não ser dirigido por Steven Spielberg. Não que James Mangold não faça um bom trabalho, ele faz, mas não é Spielberg, tem uma enorme certeza disso e foge correndo de qualquer comparação. Bom para o fã, que se diverte um montão e ganha da série tudo aquilo que tem direito.

Mais do que isso, depois de um quarto filme que era fácil torcer o nariz e se decepcionar com as expectativas criadas, esse quinto realmente tenta finalizar a série e deixar um legado à altura dos três primeiros filmes. Talvez não consiga, mas, pelo menos, é honesto, divertido e serve para os fãs matarem a saudades desse personagem tão icônico e apaixonante.

Essa honestidade talvez só prejudique um pouco o objetivo final do filme diante de uma trama que peca no ritmo, mas contrabalanceia isso com respeito e diversão, por mais que nunca empolgue. O roteiro é escrito por Jez e John-Henry Butterworth (de Ford Vs. Ferrari, com Mangold) e o experiente David Koepp, que esteve no último Indiana Jones e depois disso, entre bobagens com adaptações de Dan Brown, mas recentemente assinou o ótimo Kimi: Alguém Está Escutando. O trio parece acertar e errar quase na mesma quantidade, o que equilibra o resultado.

Harrison Ford, Mads Mikkelsen e Phoebe Waller-Bridge em Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

De um lado é interessante ver o Indiana Jones envelhecido em pleno final dos anos 60 tendo que lidar com um mundo onde o passado (e ele) estão obsoletos. Do outro, a trama que o provoca não é lá essas coisas e não empolga ninguém. Ela começa décadas antes, no finalzinho da Segunda Guerra com “Indy” (Harrison Ford e o famoso rejuvenescimento em CGI da Disney) e seu parceiro Basil Shaw (Toby Jones) dando de cara com um bando de nazistas e a Lança de Longino, usada por um soldado romano para perfurar Jesus Cristo na cruz.

Mas a lança, remetendo à tradição da série de relíquias bíblicas, é apenas um McGuffin do McGuffin. A real história do filme está em uma tal de Anticítera, uma máquina criada por Arquimedes e que é a obsessão do verdadeiro vilão do filme, o nazista meio caricato Dr. Voller (Mads Mikkelsen). O mesmo Voller que, décadas depois, está de volta para atazanar o protagonista e também sua afilhada, filha de Shaw, Helena (Phoebe Waller-Bridge).

Harrison Ford em Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

A sinopse é grande mesmo, assim como o começo do filme demora um pouco mais do que deveria. A cena de ação que abre o filme é divertida e ágil, mas não parece colocar o espectador no ritmo do filme. Uma quebra que se repete diversas outras vezes durante a trama. É difícil o filme se deixar seguir cena após cena sem interromper o próprio fluxo. Falta até um pouco de unidade entre as cenas de ação, pulando demais entre os cenários e não deixando nunca que o filme realize bem aquilo que os três primeiros fazem tão bem (o fluxo). Portanto, as mais de duas horas e meia de história poderiam ter facilmente umas dezenas de minutos a menos.

Mas ainda assim é um modo de deixar “Indy” a vontade com a um monte de aventuras, sempre de um jeito estabanado, charmoso e clássico. O que é suficiente para os fãs serem pegos pela mão nessa derradeira viagem. E com certeza isso vale o filme. Principalmente, pois Mangold e seus roteiristas nunca estão contando a história do personagem “velho demais para aquilo”, o objetivo é outro, algo perto de uma homenagem sincera e prazerosa para os fãs.

Aquele aventureiro “Doutor Jones” parece não caber mais nesse mundo onde as pessoas estão olhando para o futuro, para a corrida espacial e para a tecnologia, deixando de lado aquele misticismo que sempre cruzou o caminho do personagem. Isso com ele tendo que lidar com um lugar onde o glamour dos anos 30 e 40 deram lugar a um pragmatismo que marca Helena e sua vontade de enriquecer.

Shaunette Renée Wilson em Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

Na verdade o foco emocional da história está, tanto nessa transformação dela, quase um reflexo invertido do padrinho, quanto nessa necessidade de “Indy” ter que lidar com os traumas que o colocaram nesse lugar de fragilidade e dor. O caminho dos dois se cruzam para que eles aprendam o real significado de serem eles mesmos naquele mundo. É lógico que isso tudo não é ponto principal do filme, que é a aventura.

Mangold não é Spielberg, sabe disso e nem por um momento tenta ser igual a ele. O resultado disso é um filme sem nenhuma cena realmente inesquecível dentro da série, mas a compensação é um trabalho caprichado e que valoriza bem toda ótima direção de arte. Portanto, mesmo sem ser memorável ou do tamanho de nenhum outro, ainda assim entretem e cumpre aquilo que promete (principalmente se você lembrar que o nome de Spielberg não está no cartaz).

Melhor ainda, mesmo sem a grandiosidade da série, trata muito melhor o personagem e seus fãs. Leva em conta o quanto Indiana Jones é um dos maiores ícones da história da cultura pop e, enfim, permite que o personagem tenha um (aparente) fim que esteja a altura daquilo tudo que ele representa. Sem Spielberg, é verdade, mas, ainda assim, com todo carinho e respeito que os fãs poderão sentir enquanto se despedem do arqueólogo (na verdade antropólogo!) preferido da história do cinema.

Trailer do Filme – Indiana Jones: A Relíquia do Destino

Ficha Técnica

Título Original: Indiana Jones and The Dial of Destiny

Direção: James Mangold

Roteiro: Jez ButterworthJohn-Henry ButterworthDavid Koepp

Elenco Principal: Harrison FordPhoebe Waller-BridgeBoyd HolbrookShaunette Renée WolsonAthan IsidoreToby JonesJohn Rhys-DaviesAntonio BanderasKaren Allen

Sinopse: Na quinta aventura do arqueólogo (na verdade antropólogo!) o herói com seu chapéu e chicote precisa encarar um novo mundo, nos anos 60, mas sempre com alguns nazistas para ele distribuir socos.

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