Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1

Se alguém achava que Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 fosse apenas uma tentativa desesperada de faturar uma grana com a saga de Katniss Everdeen antes do derradeiro final, errou feio. Agora, quem achava que por isso não acontecer o resultado seria interessante, errou mais feio ainda.

Por um lado, uma história que soa muito maior que apenas um filme e que, muito provavelmente, tornaria ele algo grande demais e com a maior parte de seu começo sem ação e lento. A Esperança então é essa parte chata, onde acontece três ou quatro coisas pertinentes para o andamento da história, que estragariam um em um filme único, mas que aqui cabe, já que é fácil aceitar que se está de frente com um prelúdio para o final. E também por que todos sabem que as filas e mais filas de fãs da série iriam ver qualquer porcaria que fosse lançada.

Uma Parte 1 que continua exatamente de onde terminou o segundo filme e coloca a heroína agora sob os cuidados da resistência, aquartelados no tal Distrito 13 e comandados por uma presidente vivida por Juliane Moore (em um trabalho languido e no piloto automático). Katniss então ser torna “O Tordo”, símbolo que unirá os distritos contra a Capital e o Presidente Snow (mais uma vez Donald Sutherland sem o que fazer com o papel).

E enquanto Katniss e o espectador são bombardeados por informações e diálogos expositivos, ela descobre que Peeta (Josh Huctherson) não está morto, mas sim em poder de Snow, sendo usado como “garoto propaganda” desse sistema de governo autoritário. E falando em “sistema de governo autoritário”, ao melhor estilo comunista soviético, essa nova revolução e seu “Tordo” entram em uma batalha propagandista que vai beber no nazismo e perde muito tempo se preocupando com o que ela vai vestir em combate.

A Esperança então é delineado por esses pequenos conflitos sem muito interesse enquanto desenvolve a realidade sócio-econômica de Panan. Mostra os pequenos focos de resistência, retorna vezes demais para pontuar Katniss como alma de sua propaganda (mas não perde um segundo sequer discutindo isso) e por fim, em uma única e solitária sequência, coloca ela em conflito direto com Snow. Mas também isso dura poucos segundos enquanto o diretor James Lawrence e a dupla de montadores Alan Edward Bell e Mark Yoshikawa mostram que sabem criar um pingo de suspense com uma montagem paralela.

Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 Crítica

Mas esse primeiro filme do final da saga está ai só para isso, para que o final (bem interessante) possa ser tratado como clímax ao invés de perdido como ponto de virada em uma trama que ousasse encarar esse último livro como um só filme.

Oportunidade também para que Katniss seja um pouco mais desenvolvida. Menos do que deveria, mas ainda assim, mais do que a grande maioria de heroínas por ai são. Um olhar que passa por essa sua inquietação até enquanto encara de frente as autoridades que estão de seu lado, ao mesmo tempo que se mostra tremendamente ingênua no resto do tempo, aceitando absolutamente tudo que lhe enfiam goela abaixo.

É incrível a facilidade com que o roteiro permite que Katniss passe de exemplo de heroína forte e decidida para menininha manipula e frágil, muitas vezes dentro da mesma sequencia. De explodir uma nave com uma flecha a engatar um discursinho furado manipulado por uma “diretora de cinema” com cabelo escroto e um “cameraman” sem língua é um caminho tão rápido que dá até vergonha. Mas enfim, é ali que nasce o lema da revolução para ser cantado em oníssono, ainda que ele só seja usado mais uma vez durante o resto do filme.

Um desleixo que acaba sendo uma das grande características desse “começo do fim”, já que na empolgação de preparar as peças para um último e empolgante filme (assim todos esperam!), não se importa de ser longo demais para tão poucas surpresas. E pior ainda, sem perceber o quanto o filme perde em ritmo sem um “Jogos Vorazes” propriamente dito. Simplesmente então não há nenhuma sequencia de ação empolgante em todo filme, e a própria Katniss dispara mísera uma flecha contra um inimigo durante todo o tempo. Muito pouco diante de um filme que sempre se escorou muito mais na ação do que no fiapo de romance que conseguia encontrar.

Por um lado uma decisão que amadurece os personagens e suas relações, além de dar tempo suficiente para que Philip Seymour Hoffman (morto recentemente) de um show de sutileza e precisão em cada uma de suas pequenas participações, mas que também relega Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 a apenas uma prévia para algo maior. Diminuído diante dos dois filmes e, muito provavelmente, também do próximo e último.


“The Hunger Games: Mockingjay – Part 1” (EUA, 2014), escrito por Peter Craig e Danny Strong, dirigido por Francis Lawrence, com Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Donal Sutherland, Philip Seymour Hoffman, Julianne Moore, Jeffrey Wright e Elizabeth Banks


Trailer de Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1

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