Justiceiras | Um pacto sinistro no high school

Para o desespero dos puristas, Justiceiras é uma versão “high school” de Pacto Sinistro, aquele do Alfred Hitchcock, e isso nem chega a ser um problema, muito pelo contrário até, já que quando o filme está focado nisso o resultado é até interessante. Mas, infelizmente ele dispersa.

E não reclamem da mudança de ares, faz décadas que Hollywood vem fazendo isso e obtendo resultados interessantes. Patricinhas de Beverly Hills é Jane Austen, 10 Coisa que eu Odeio em Você é Shakespeare, Segunda Intenções é Ligações Perigosas e os exemplos não ficam por aqui, tem muito mais. O que importa é que o “high school” americano, com toda sua selvageria emocional, é sempre um lugar pronto uma trama de traição e desencontros.

Nesse caso, a história de dois personagens estranhos que resolvem cometer um o crime do outro. Nesse caso, duas jovens que se trombam em um acampamento de tênis para pessoas ricas e decidem se vingar de desafetos passados, uma com a ajuda da outra.

De um lado, Drea (Camila Mendes), uma jovem pobre que conseguiu ingressar nessa escola caríssima e sonha com uma faculdade em Yale, mas mesmo com toda sua popularidade, acabou sendo vítima do vazamento de um vídeo íntimo por seu namorado, Max (Austin Abrams). Do outro lado, Eleanor (Maya Hawke), meio esculhambada de tudo, mas traumatizada por uma antiga menina que espalhou que tinha sido assediada por ela. Menina que estuda nesse mesmo colégio rico onde Drea era super popular e será o foco de sua vingança.

Mas, diferentemente do filme de Hitchcock, Justiceiras vai um pouco mais além na história e se diverte com algumas novidades e surpresas. E lógico, ainda coloca o espectador para enfrentar todo drama exagerado de um monte de jovens ultra ricos em uma escola esnobe e com uniformes bregas. Mas ao fazer isso com um certo viés de humor e ridicularização, deixa tudo menos sério e permite que, principalmente nesses momentos que todo mundo já conhece, tudo fique menos chato e repetitivo. Por mais que o roteiro não saiba fugir de outras armadilhas parecidas.

Justiceiras | Um pacto sinistro no high school

O texto é escrito pela diretora Jennifer Kaytlin Robinson (que recentemente assinou o roteiro do último Thor) em parceria com Celeste Ballard e a dupla parece se estender demais em algumas de suas cenas. Como se faltasse um corte um pouco mais preciso em diálogos ou passagens entre arcos. Parece pouco, mas isso vai inchando o filme mais do que deveria e desgastando seu ritmo. Talvez até a culpa fique com a dupla de montadores Lori Ball e David Clark, mas a impressão é mesmo de um roteiro que se alonga demais em certos momentos e esquece de seguir mais rapidamente para suas boas ideias e reviravoltas interessantes. Principalmente, porque elas estão lá, é só esperar.

Principalmente a reviravolta ligada ao ex-namorado de Drea, que se transforma em um pesadelo pós-moderno de pós-verdade.  Isso e também a grande novidade final, que é muito bem guardada e funciona até para aqueles que a perceberem com antecedência. É lógico que ela depois precisa de um flashback para o espectador perceber tudo que perdeu e como foi enganado, daquele jeito igual a um monte, mas que aqui merecia algo melhor, principalmente quando tinha em mãos desde o começo uma narração divertida das personagens principais, e que poderia estar mais presente no resto do filme.

E grande parte disso tudo também funciona graças à dupla Camila Mendes e Maya Hawke. Ambas entendem os toques de humor meio ridículos das intenções do filme e também funcionam quando o roteiro pede algo mais emocional. Só são prejudicadas pelo mesmo texto, principalmente por permitir que uma delas tenha emoções mais à flor da pele do que deveria diante da sua verdadeira natureza vingativa… e mais do que isso poderia estragar a surpresa dos espectadores. Mas resumindo, se está enganando todo mundo, porque então ficar triste quando seu alvo fica chateada?

Mas isso realmente não atrapalha muito a experiência de Justiceiras e deve até passar despercebido para grande parte do público que estiver mergulhado na história. E quem sabe aqueles mesmos puristas bravos do primeiro parágrafo não vejam ainda no sucesso desse filme uma oportunidade dos jovens espectadores irem atrás de um dos filmes mais divertidos e interessantes do Mestre do Suspense. E nesse caso, Justiceiras acerta na mosca.


“Do Revenge” (EUA, 2022); escrito por Jennifer Kaytin Robinson e Celeste Ballard; dirigido por Jennifer Kaytin Robinson; com Camila Mendes, Maya Hawke, Austin Abrams, Rish Shah, Talia Ryder, Alisha Roe, Ava Capri e J.D.


Trailer do Filme – Justiceiras

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