A foto mostra as atrizes Chase Sui Wonders, Amandla Stenberg, Rachel Sennott e Maria Bakalova com roupas sujas e aparência de quem está passando por grande sofrimento dentro de um quarto em cena do filme Morte Morte Morte.

Morte Morte Morte | Por pouco não é um terror

Por muito pouco Morto Morto Morto não é um terror. E quanto mais perto ele chega disso, mais decide arremessar o espectador em um lugar que beira o ridículo. Não uma sátira do gênero, mas sim um jeito de dar um pouco de risada do mundo mesmo, aquele que está cada vez mais ridículo.

E apesar do título nacional ruim, “Bodies Bodies Bodies”, no original, é um daqueles filmes que irá surpreender e frustrar, bom para o primeiro grupo, azar do segundo. Esses que ficarão bravos entrarão no cinema atrás de um slasher sem personalidade com um vilão mau correndo atrás das vítimas indefesas. O vilão pode ou não estar lá (faz parte da graça), as vítimas estão, mas são menos indefesas (também faz parte da graça).

No caso, sete jovens (um não tão jovem assim… mas tem aí uma piada) que se juntam para uma “Festa do Furacão”.  O que quer dizer que todos irão se juntar na mansão gigante do amigo ricaço, David (Pete Davidson), e ficarão por lá usando drogas legais e ilegais durante a noite inteira, isso enquanto um furacão passa pela região.

A história corre através do ponto de vista de Sophie (Amandla Stenberg) e sua nova namorada, Bee (Maria Bakalova). A primeira, antiga amiga da turma, mas que ficou “off-line” por um tempo enquanto se recuperava de uma “rehab”. Tudo em inglês assim mesmo, para entrar no clima do filme.

E se a situação inteira é perfeita para um assassino genérico qualquer, aqui ela é o pretexto para um jogo, justamente chamado “Bodies Bodies Bodies”, onde os participantes fingem matar um deles e depois discutem suas relações para adivinharem quem era o assassino. O que tem cara de ser uma ideia ruim… bom é mesmo uma ideia ruim diante da mistura disso com álcool, diversas outras drogas, falta de internet e amarguras do passado.

Como é de esperar, os amigos começam a aparecer mortos e os sobreviventes entram em pânico. O roteiro de Sarah DeLappe, a partir de uma ideia da escritora Kristen Roupenian, cria essa espiral de loucura e insegurança onde tudo não é o que parece (ou é) e o espectador fica junto dessas cinco amigas dentro da casa tentando sobreviver. Mas “Bodies Bodies Bodies” é com certeza mais do que isso.

Maria Bakalova está deita no chão de barriga para cima com pulseiras e colares neon enquanto chupa um pirulito olhando para a câmera.

Além do jeitão de terror, o filme quer mesmo é interromper os sustos e construções esperadas dentro do gênero para discutir o mundo. E cada momento desses é hilariantemente delicioso e cheio de verdades. Não verdades sobre o mundo, mas sobre o que aquelas moças representam em termos de mundo. Jovens ricas e descoladas da realidade, cada uma a seu jeito. Não erradas ou certas, mas sim perdidas em uma sociedade que as levou para esse lugar esquisito.

Entre em um Xanax e outro, entre acusações vazias e os assassinatos, cada segundo que passa as amigas ficam mais e mais inseguras entre elas. Os celulares só servem de lanterna, e a obsessão por um mundo de aparências dá lugar à necessidade de sobreviver. Mas sobreviver também depende da capacidade de dialogar com as outras ao melhor estilo Twitter. Cada frase vai se transformando em uma ofensa maior e mais escabrosa… mas sem racismo, lógico, ou a personagem será cancelada, mesmo que a acusação de racismo faça parte do “gaslighting” (e não falem de gaslighting!)

É impossível não cair na risada quando umas das personagens descobre que a amiga não gosta do podcast dela e começa a explicar o quanto é difícil e trabalhoso criar esse conteúdo. A ofensa de volta, “Seus pais são da classe-média alta”, quebra a narrativa da amiga de ser a jovem pobre que ascendeu socialmente. Tudo parecendo tão ridículo, mas tão levado a sério pelo filme, que faz “Bodies Bodies Bodies” seguir nessa comédia que não parece ser uma comédia até o espectador perceber que está rindo daquilo.

Parte dessa naturalidade com que a construção dessa ideia funciona está nas mãos da diretora Halina Reijn e do elenco. A diretora se mantém firme com uma câmera que acredita estar em um filme de terror, se esgueirando pela escuridão e esperando encontrar o assassino em um “jump scare” qualquer, mas nunca o faz, já que acha muito mais divertido entregar o filme para suas personagens se perderem nele.

Por isso é tão importante celebrar a escolha do elenco, que pinça de diversos sucessos recente seus atores e aproveita grande parte de suas simpatias para moldar a dinâmica. Absolutamente todo mundo está incrível no papel. Bakalova vem com sua indicação ao Oscar por Borat para construir essa jovem insegura dentro de um ambiente que não é seu. Stenberg brilhou recentemente em O Ódio que você Semeia e aqui leva a sério uma personagem que se perde em sua própria segurança. Rachel Senoott (Alice), do indie e celebrado Shiva Baby, entrega alguém completamente desprendida da realidade, mas com uma empolgação que contagia a cada ideia.

O elenco ainda conta com Myha´la Herrold da série Industry, Chase Sui Wonders de outra série também da HBO Max, Generation. Já entre os homens, Pete Davidson chega com anos de sucesso no Saturday Nigh Live e o recente A Arte de Ser Adulto, junto com Lee Pace, ex-Ronan na Marvel e recente “Irmão Dia” na série da Apple TV+, Fundação.

Muita gente conhecida pelos espectadores, o que permite a identificação muito rápida da maioria do público, o que facilita para eles na hora de lidarem com os diálogos absurdos e soluções malucas de Morto Morto Morto, que por pouco não é um terror, principalmente porque você vai dar um monte de risadas com ele.


“Bodies Bodies Bodies” (EUA, 2022); escrito por Sarah DeLappe, a partir de uma ideia de Kristen Roupenian; dirigido por Halina Reijn; com Amadla Stenberg, Maria Bakalova, Rachel Sennott, Chase Sui Wonders, Pete Davidson, Myha´la Herrold e Lee Pace


Trailer do Filme – Morte Morte Morte

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