O Dublê | Uma boa e divertida história de amor com carros voando e explosões

O Dublê, novo filme de David Leitch (cara que inventou o John Wick e ainda assinou Deadpool 2 e Atômica entre outros), deveria se chamar Duro Na Queda, já que é basicamente uma adaptação da série que tinha esse nome no Brasil, durou cinco temporadas e acompanhava um dublê que, nas horas vagas, era caçador de recompensas. Mas isso foi nos anos 80 e muita gente já esqueceu dela.

O que nunca é bom, já que esquecer suas origens é sempre um problema. Leitch faz questão de não fazer isso, bem pelo contrário até. Cada um de seus filmes é uma espécie de celebração ao seus glorioso passado que o colocou nessa prateleira tão alta em Hollywood. Entre 1997 e 2015, o agora diretor teve quase 60 participações como dublê em mega produções do cinema americano. Por cinco vezes foi o cara que tomava os socos e tombos no lugar de Brad Pitt, por exemplo. Mesmo não creditado como co-diretor do primeiro John Wick, ele estava lá “estreando” com outro ex-dublê, Chad Stahelski (creditado como diretor).

De lá para cá, absolutamente tudo que Leitch assinou parece ter o mesmo intuito de colocar à prova sua capacidade de encaixar na tela aquilo que ele fazia de melhor, mas agora sabendo exatamente como valorizar o trabalho de seus ex-companheiros. Além de Wick, Deadpool e Atômica, ainda esteve por trás do spin-off de Velozes e Furiosos, Hobbs & Shaw e também do recente Trem-Bala. Todos com muitas cenas de ação, porradaria e uma câmera que sabe como olhar para as cenas de um jeito que valorize todo trabalho de coreografia dos dublês.

Todo esse crescendo culmina em O Dublê. Talvez seu filme mais impressionante, tantos em termos de visual, quanto da capacidade de construir uma trama que, obviamente não é nada tão complicada, mas que ganha um carinho e um capricho tão grande que faz o filme ser um daqueles exemplos perfeitos de “blockbuster enorme e cheio de coração”.

O Dublê é escrito pelo mesmo Drew Pearce que trabalhou com Leitch em Hobbs & Shaw (mas que também assinou o subestimado Homem de Ferro 3) e vai até a série de TV para se inspirar e acompanhar Colt Seaver (Ryan Gosling), um dublê que sofre um acidente, fica fora do radar por 18 meses e acaba voltando aos sets de filmagens do primeiro filme de seu antigo amor, Jody Moreno (Emily Blunt). O problema é que ele acaba descobrindo que não tinha sido a pedido dela, mas sim da produtora Gail Meyer (Hannah Waddingham), que na verdade precisa dele para encontrar o astro do filme que está sumido faz dias, Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson).

O resto do filme remete diretamente a estrutura de uma daquelas séries enlatadas semanais de “crime da semana” (como Duro na Queda o era!). Seaver vai investigante o sumiço do astro e se metendo em encrencas. Cada encrenca se torna uma grande cena de ação cheia de dublês e assim por diante. Mas O Dublê tem algo a mais: humor e amor.

A grande motivação de Seaver é reencontrar seu grande amor e se redimir de seus erros do passado. Uma relação que não só move o filme, como lhe confere um charme incrível. Gosling e Blunt, além de terem uma química que deixa o filme firme, são dois atores que tem por característica básica essa impressão de fazerem com que suas linhas de diálogo pareçam naturais e até meio improvisadas. O roteiro aproveita isso então para criar uma série de encontros e desencontros que coloca os dois em um eterno embate emocional e cheio de nuances e metáforas. Você sabe que eles acabarão juntos e felizes para sempre, mas torce sempre para que seus diálogos durem todo tempo possível.

E se isso poderia atrapalhar o ritmo do filme, no final só ajuda. O Dublê não é um filme sobre uma correria desenfreada, mas sim sobre pequenos grandes momentos onde as cenas de ação podem valorizar o caminho em que o roteiro levou o espectador até lá. Um equilíbrio que não esquece nunca do quanto é importante ter sempre tudo isso em harmonia. Isso tudo e o humor.

De um modo ou de outro, O Dublê ainda é uma comédia, daquelas com muita aventura e um toque de romance, mas sobre tudo, está lá para deixar o seu espectador relaxar em sua poltrona enquanto dá umas risadas e se empolga com a ação. Tudo meio misturado e sem nunca deixar que uma coisa atrapalhe a outra. O riso pode vir em um diálogo sutil ou em alguma maluquice que só poderia sair da cabeça de um ex-dublê que está em busca do limite em suas cenas. E isso fica claro em cada frame.

Durante os créditos finais (antes de uma cena com a participação da dupla de protagonistas da série original), é possível acompanhar um punhado de cenas de bastidores que expõe o trabalho dos dublês no filme e mostram o quanto tudo foi feito de um jeito, digamos assim, “analógico”. Portanto, a grande maioria daqueles momentos onde, no escuro do cinema, você pensar “isso eles fizeram com CGI”, pode acreditar que foi feito ali mesmo, na frente da câmera e com muita gente sendo arremessada, caindo, voando com carros e entregando ao visual do filme uma veracidade que sempre supera qualquer equipe de gente na frente de computadores.

Não que efeitos digitais sejam um problema, bem pelo contrário, são até uma solução para tornar as cenas de ação ainda mais interessantes, dinâmicas e bonitas. Mas é difícil bater o recorde de capotadas de um carro só com o mouse e uns pixels (a de O Dublê, foram oito capotadas e meia). E seu um salto de carro de quase 77 metros de distância fica bom no computador, mas quando é feito na vida real, sobre um disco voador e com a câmera olhando para esse carro voando, tudo fica beirando o épico.

O Dublê é isso, uma história de amor que todo mundo vai se apaixonar, com muita ação, muitos dublês e um diretor que, realmente, está, cada dia mais, se estabelecendo como uma referência para quem quer ir no cinema se divertir a beça, mas sem levar nada muito a sério… mas com muito trabalho para os dublês. E quem não gosta desse tipo de passatempo é chato e realmente não gosta de cinema, só quer mesmo impressionar o pessoal metido a besta. Ok, isso pode ser um exagero, mas nada combina melhor com um balde de pipoca, do que uma boa e divertida história de amor com carros voando e explosões.


“The Fall Guy” (EUA, 2024); escrito por Drew Pearce; dirigido por David Leitch; com Ryan Gosling, Emily Blunt, Aaron Taylor-Johnson, Hannah Waddingham, Teresa Palmer, Stephanie Hsu e Winston Duke.


Trailer do Filme – O Dublê

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