O Estrangulador de Boston | Falta humanidade no filme também

Keira Knightley e Carrie Coon em O Estrangulador de Boston

A vontade de ser verdadeiro de O Estrangulador de Boston, nova produção do Star+, é tão grande que prefere jogar o filme fora e todo interesse por ele junto, do que fazer um filme onde a ficção compensaria certos detalhes.

O filme dirigido e escrito por Matt Ruskin (do celebrado Crown Heights de 2017) e tem como objetivo principal contar a história de Loretta McLaughlin (Keira Knightley) e Jean Cole (Carrie Coon), duas jornalistas de Boston que saíram na frente na hora de relacionar entre si uma série de mortes que aconteceram na cidade e acabaram batizando um suposto assassino que dá nome ao filme.

A história é conhecida pelos fãs de “assassinos em série” (na época dos crimes o termo ainda não tinha sido cunhado), tanto pela violência, quanto pelo mistério e incompetência do sistema e da força policial da cidade. Enfim, alguém foi acusado e até confessou, mas nem todos crimes foram cometidos por ele, o que deixa tudo mais perto ainda do lendário.

Tudo isso está no filme de Ruskin, didático e fácil de entender, mas sem muita emoção. A investigação das duas e o quanto fazem um trabalho muito mais eficiente do que o da polícia está lá, mas falta meandros, suspense, incertezas e possibilidades. O roteiro de Ruskin é crível em absoluta todos sentidos, mas parece faltar questionamentos.

Alessandro Nivola em O Estrangulador de Boston

É óbvio que isso vem junto da vontade de ser preciso e não se deixar levar por qualquer suspense inexistente, o que é um esforço digno que beira uma isenção jornalística e serve como homenagem ao trabalho das duas, mas tudo ficaria melhor com algumas reviravoltas ou até um olhar menos afastado de seus personagens. Principalmente as duas.

Mesmo em meio aos machismos da época, tudo parece menos pesado e complicado do que poderia ser, o que deixa ambas livres demais em um mundo que poderia ser um pouco mais complicado para dar ritmo ao filme. As descobertas e decisões não são tensas e todos parecem do lado delas durante todo tempo, o que as coloca em um lugar confortável demais. Talvez falte um pouco de Todos Homens do Presidente para O Estrangulador de Boston, falta dificuldades e um sistema que não está muito a favor delas, como não estava no filme de Alan J. Pakula.

David Dastmalchian em O Estrangulador de Boston

Falando em jornalistas enrascados, e falando também de assassinos malucos, falta também um pouco de Zodíaco ao filme de Ruskin. Como se elas estivessem longe demais dos assassinatos e das vítimas. Falta fazer delas o caminho mais próximo entre os espectadores e as mulheres assassinadas, suas histórias, dores e medos.  Essa impessoalidade do filme afasta quem está do lado de cá da tela que apertou o play procurando um filme sobre serial killers, mas não encontra no filme nada que não estivesse nas páginas dos jornais.

Falta conhecer mais as duas, talvez falte até conhecer mais os supostos assassinos e, definitivamente, saber mais quem foram essas vítimas.

O Estrangulador de Boston tem uma fotografia quente, amarronzada e sépia, com um diretor que até sabe onde colocar sua câmera para criar composições interessantes e provocativas, como o vizinho escutando uma das vítimas, mas junta tudo isso em um filme frio e sem vontade de extrapolar os registros históricos e jornalísticos. Como se não quisesse olhar além da verdade e se contentasse com um resultado chato, mesmo verdadeiro e preciso para os livros de história. O que, às vezes, é pouco para a diversão.

Trailer do Filme – O Estrangulador de Boston

Ficha Técnica

Título Original: Boston Strangler

Direção: Matt Ruskin

Roteiro: Matt Ruskin

Elenco Principal: Keira KnightleyCarrie CoonChris CooperAlessandro NivolaRory CochraneDavid DastmakchianRobert John Burke

Sinopse: Em meio a uma série de assassinatos misteriosos, duas jornalistas começam a investigar os casos e acabam relatando um dos criminosos mais conhecidos da história dos Estados Unidos.

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