O Exótico Hotel Marigold

Não será nem a primeira nem a última vez que o cinema tratará da velhice como espinha dorsal de uma história, Clint Eastwood brincou com seu grupo experiente indo para o espaço em Cowboys do Espaço e até o recente Battleship separa o terceiro ato para que os verdadeiros heróis da Segunda Guerra entrem em cena, mas uma coisa difere essas duas besteiras escapistas do novo O Exótico Hotel Marigold (e não é a qualidade, já que o extraordinário Vênus, com Peter O´Toole, também escolhe o caminho deles): no filme de John Madden ninguém quer ser mais jovem, mas sim viver os anos que restam.

Não que nenhum dos sete personagens, vividos por um elenco de atores ingleses que já vale o ingresso, não queiram ser mais jovens, provavelmente querem, mas mais do que isso escolhem esse Hotel no meio da Índia para começar de novo e tentar aproveitar essa segunda chance que caiu em seus colos antes que seja tarde demais.

Judi Dench é uma viúva que decide viver uma aventura depois de perder o marido e descobrir que também perdeu um bom tempo de sua vida, Tom Wilkinson é um juiz importante que parte para a Índia em busca de seu passado quando viveu no país, Bill Nighy e Penelope Wilton vivem um casal que apostou todo dinheiro de suas aposentadorias em um negocia da filha e agora não tem nenhum tostão, Maggie Smith é uma velha senhora (cheia de preconceitos) que precisa de uma cirurgia na bacia e acaba partindo para a Índia para não ter que esperar na Inglaterra e, por fim, Ronald Pickup e Celia Imrie são dois velinhos tentando fugir da solidão em busca de um novo amor.

E no meio disso tudo está o Exótico Hotel do título, administrado pelo jovem vivido por Dav Patel (de Quem Quer ser um Milionário) nessa empreitada para honrar a memória do pai que era dono da propriedade. E é justamente ai que o filme acaba não se deixando empolgar mais.

Ainda que Madden (que foi indicado ao Oscar de diretor por seu Shakespeare Apaixonado) não consiga fugir de uma estrutura episódica no começo até juntar esses sete personagens no saguão do aeroporto (e até brincando com isso logo depois e apresentando-os novamente), em pouco tempo O Exótico Hotel Marigold já engata um ritmo divertido, que casa o caos do país indiano com esses personagens ingleses tradicionais. Por um lado, o filme guarda essa trama sincera e que não inventa muito (adaptada do livro de Deborah Moggach, The Foolish Things) e de outro ainda conta com um humor sutil e que se abstêm completamente de qualquer piada “somos muito velhos para isso”, uma combinação que ajuda o filme a conquistar o espectador por grande parte de sua duração.

O problema então é estrutural, como se montasse todos pilares de seu ponto alto (o final, lógico) sem ligar todas subtramas de modo mais compacto. Prova maior disso é perceber o quanto cada umas das histórias dos personagens funciona perfeitamente, mas apenas uma delas parece casar e conviver com o drama do jovem dono do hotel. Assim como a morte de um dos protagonistas (mesmo sendo completamente bem estruturada e sensível), pouco influencia os outros, como se o roteiro de OL Parker não conseguisse manter uma linha que ligasse melhor tudo aquilo.

O Exótico Hotel Marigold Filme

O Exótico Hotel Marigold sofre então com esse desequilíbrio, já que, por exemplo, até a personagem principal (Dentch) acaba apática dentro de sua transformação de viúva dependente à senhora independente, enquanto à sua volta, todos acabam percorrendo muito melhor esse caminho (a personagem de Maggie Smith em um dos ciclos mais comoventes do filme, já que precisa encarar sua própria fragilidade e seu passado para entender o que precisa realmente).

Mas a qualidade da atuação do grupo de veteranos (em contrapartida ao exagero do astro indiano) realmente vale a pena, e mesmo que nenhum deles tenha material suficiente para um trabalho impressionante, ainda que medianos (nesse caso a média é algo alto para os padrões) conquistam o público pela simpatia e, no final das contas, não deixam que nem algumas soluções preguiçosas do roteiro (alguns “eu te amos” que resolvem muita coisa), nem um problema enorme de o que fazer com certos personagens ao final da trama (como os personagens de Pickup e Imrie, que acabam jogados na trama) impeçam que O Exótico Hotel Marigold seja um drama leve e sincero sobre esperança e recomeços.


The Best Exotic Marigold Hotel (RU, 2011) escrito por OL Parker, a partir do livro de Deborah Maggach, dirigido por John Madden, com Judi Dench, Tom Wilkinson, Bill Nighy, Penelope Wilton, Mahhie Smith, Ronald Pickup, Celia Imrie e Dev Patel.


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