Pós-Oscar (ou, Quem Levou)

Ano passado Argo ganhou dirigido por um fantasma, já que Ben Affleck nem entre os cinco indicados a Melhor Diretor ficou. Esse ano 12 Anos de Escravidão “levou a melhor”, mas aparentemente não era “muito melhor” que seu principal adversário, Gravidade. E durmam com esse barulho.

E nem adianta colocar a culpa no sistema de votação, já que na segunda fase (para escolher o vencedor e não o indicado) a escolha é direta. O que leva a pensar que muita gente a chegou à conclusão que Cuarón foi um melhor diretor, seu filme teve uma melhor montagem e uma melhor fotografia. Para esses mesmos, Gravidade ainda teve um melhor som, trilha sonora e efeitos especiais mais interessantes, mas ainda assim “12 Anos de Escravidão” foi um melhor filme.

Não a toa então que uma das primeiras palavras da apresentadora Ellen Degeneres foi lembrar à plateia que “ou 12 Anos de Escravidão irá ganhar ou vocês são todos racistas”. Um sentimento que, justamente, vem de encontro a decisão de atrelar tanto o livro de Solomom Northup, quanto o filme dirigido por Steve McQueen como material obrigatório nas escolas dos Estados Unidos. No mesmo ano ainda que, pelo primeira vez na história, a Academia de Ciências e Artes Cinematógráficas é presidida por uma mulher, e ainda negra.

Sim, ou 12 Anos de Escravidão ganharia ou todos seriam racistas. Não importa se alguém achasse ou não que “Gravidade” fosse um melhor filme. 12 anos… ganhou para todos deitarem a cabeça no travesseiro na noite seguinte e dormirem com a consciência limpa. Para não haver dúvida, Will Smith (talvez o maior astro negro de Holywood na atualidade), ainda entregou a estatueta para o produtor Brad Pitt.

pos-oscar-still

Mas não se enganem, 12 Anos de Escravidão não ganhou pela consciência política, e sim por se sentirem obrigatórios a fazer isso. Pela culpa de suas gerações passadas talvez. Se fosse pela consciência, “The Square”, sobre a revolução no Egito, teria levado Melhor Documentário. Não levou, já que não tinha nenhum egípcio para entregar o prêmio, nem o filme irá passar pelas salas de aula americanas.

Enfim, é preciso ainda dizer que 12 Anos de Escravidão nem de longe deixa de merecer qualquer prêmio, que ganhou ou tivesse ganhado. E não seria vergonha nenhuma para a Academia entregar as “estatuetas” técnicas para gravidade enquanto celebrava o filme de Steve McQueen em todo resto, incluindo talvez algo mais que apenas um roteiro adaptado. Afinal, o filme merecia, talvez, Designe de Produção, Figurino, quem sabe até Fotografia. Faltou celebrar o dito Melhor Filme do ano, ao invés de para o resto do tempo ser lembrado como alguém que ganhou, mas não levou.

Gravidade” é o Melhor Filme ano, ainda que 12 Anos… tenha ficado com essa estatueta.

Mais do Mesmo

E no resto da noite, nada de muito novo, todos os Sindicatos ditaram os vencedores. Matthew McConaughey emagreceu seus vinte quilos e levou a estatueta, enquanto Cate Blanchett, obviamente levou seu Oscar. Entre os coadjuvantes, Lupita N´Yong também levou, assim como Jared Leto. Tudo “by the book”.

Já entre os Filmes Estrangeiros, enquanto o sensacional Azul é a Cor Mais Quente nem ao menos foi indicado, e a A Caça é pesado demais para ser levado em consideração. Sobrou para a Itália levar um Oscar para casa depois de quinze anos longe do palco (o último foi A Vida é Bela), o que também não foi surpresa alguma.

86th Annual Academy Awards - Show

E como eu disse no editorial pré-Oscar, tudo uma festa entre amigos, com direito a pizza, selfie, shozinho do U2, que não levou principalmente por ser uma música chata demais perto da vencedora “Let i Go”, de Frozen, que também ganhou Melhor Animação para a Disney que acaba sendo o primeiro prêmio da “casa do Mickey” nessa categoria (desde 2001), além de ser apenas a segunda “animação tradicional” a levar (a outra foi A Viagem de Chihiro em 2002).

Uma safra ótima, um daqueles momentos raros em que nove indicados à Melhor Filme não é exagero, mas ainda assim um ano que “acaba” de modo estranho, onde ninguém sabe direito quem a Academia, realmente, escolheu como Melhor Filme (ou como “Filme Obrigatório”). E por mais que ambos mereçam, talvez só o tempo acabará dizendo quem realmente ganhou.

E não deixe de conferir a lista completa de vencedores!

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