Protetor: Capítulo Final | Uma mistura de Liam Neeson com Shakespeare

Um dia Antoine Fuqua foi um gênio. Dia de Treinamento, de 2001, é sem sombra de dúvida um dos melhores e mais importantes filmes de sua geração. Depois disso, Fuqua deixou de ser um gênio, mas, com certeza, se tornou um diretor maduro o suficiente para saber aproveitar absolutamente bem tudo aquilo que tem em mãos. Protetor: Capítulo Final é só mais um exemplo disso.

Definitivamente não é um grande filme, assim como uma dezena de outras produções assinadas por ele desde 2001, mas é eficiente e está muito (muito!) longe de ser ruim ou problemático. Principalmente em razão da presença de Denzel Washington (que estava lá com Fuqua em Dia de Treinamento e até ganhou um Oscar por isso).

Para quem não sabe, Protetor nasce de uma série americana, “Equalizer”, que teve quatro temporadas e quase 90 episódios durante os anos 80. Em resumo, um certo sucesso, porém meio esquecido pelas décadas. O que não contaria a favor do filme e, pelo teor da série, tinha tudo para colocar o filme naquele lugar de produções de ação descartáveis que poderiam ter alguém de protagonista que se encaixasse entre Steven Segal e Liam Neeson. Mas Washington coloca Shakespeare no meio da porradaria.

Desde o primeiro filme, o ganhador de dois Oscars, entrega uma quantidade de qualidade absolutamente maior do que o personagem pede. Na mão de muito isso poderia soar exagerado, com Washington, isso se torna imperdível. E se os filmes não se tornam igualmente necessários, não é por culpa dele. Esse terceiro filme segue o mesmo ritmo. Ou melhor, vai mais além.

Fuqua extrapola as ideias dos dois outros filmes em tudo. Capítulo Final é mais violento, mais surpreendente e com diálogos ainda mais marrentos.

O filme começa com o espectador descobrindo, praticamente “de trás para frente”, os estragos de uma invasão no meio de uma fazendo na Sicília. Corpo atrás de corpo e com uma câmera que se diverte com closes nos ferimentos mais graves, o final dessa chacina é Robert “Roberto” Mccall (Washington), “com dois Cs e dois Ls”. Tudo vai bem em termos de violência e gente sendo eliminada pelo herói, até que ele se machuca seriamente e acaba sendo resgatado por um estranho e vai se recuperar uma pequena cidade próxima, com mais cara de vilarejo do que qualquer coisa.

Para o azar da Camorra e de um de seus chefes que explora essa cidade, Mccall sobrevive, e mesmo com toda vontade do mundo de se aposentar com os italianos, acaba mais uma vez ajudando um pessoal indefeso enquanto “equaliza” essa balança através de força bruta e respostas vagas.

O roteiro de Richard Wenk é mais do mesmo. Wenk na verdade é especialista nesse tipo de “mais do mesmo” com sua larga experiência assinando filmes onde personagens solitários dão conta de exércitos inteiros, como os dois outros Protetores e ainda coisas como A Profissional, Jack Reacher e Assassino a Preço Fixo. Mas em Capítulo final ele parece mais inspirado que o normal.

Ainda que seus diálogos pareçam não falar muita coisa e posicionam o filme sobre quase uma trama de espionagem que não serve para nada (a não ser para explicar o começo e a razão do protagonista estar na Itália… e faz isso só graças a um diálogo expositivo gigante), a trama lida bem com a ideia de colocar McCall em uma situação de fragilidade para acompanhá-lo tendo que entender o quanto precisa ser paciente para conseguir ser ele mesmo. Leia aqui: conseguir ter forças para matar bandidos.

Em meio a um monte de atalhos mais do gênero do que da série, como os bandidos serem muito maus e o protagonista começar a se sentir parte de uma comunidade que ele não esperava se sentir inserido, sem esquecer a vontade de se aposentar, esse terceiro Protetor pelo menos tenta ser diferente e isso já dá fôlego ao filme. Um novo país, uma nova máfia e, praticamente, um novo protagonista, quase mais trágico diante da necessidade de ter que defender uma cidade inteira.

O tempo inteiro o roteiro tenta ser diferente daquilo que aconteceu nos dois primeiros, mas sem nunca se desvincilhar de suas raízes. Tudo é meio novo, mas soa como a evolução de uma ideia e não uma novidade vazia.

Nesse espaço entra em cena ainda a capacidade de Fuque de valorizar o material que tem em mãos. Seja na pequena cidade na Sicília ou em qualquer lugar por onde o filme passa, o diretor valoriza bem demais o cenário. Quando Washington entra em cena, Fuqua aproveita qualquer detalhe que seja para lembrar que aquele cara ali não tem dois Oscars na prateleira por engano ou sorte. E se o fã quer um filme mais violento, Fuqua vai lá e faz isso. Querem um McCall ainda mais marrento? Pronto, ele praticamente não consegue se comunicar com ninguém sem uma frase de efeito.

Fuqua pode não ser mais aquele gênio que foi durante uma temporada, mas, mais do que nunca, é um diretor experiente o suficiente para aproveitar tudo aquilo que tem em mãos e cumprir aquilo que seus fãs (mais) esperam. Protetor: Capítulo Final pode não ser um daqueles filmes que serão lembrados muito tempo depois do seu final, mas com certeza irá servir de diversão para quem entrar no cinema para ver Denzel Washington sendo esse brucutu matando bandido, mas com consistência e profundidade de um dos maiores atores de sua geração.

“The Equalizer 3” (EUA/Ita, 2023); escrito por Richard Wenk; dirigido por Antoine Fuqua; com Denzel Washington, Dakota Fanning, Eugenio Mastrandrea, David Denman, Gaia Scodellaro, Remo Girone, Andrea Scarduzio e Andre Dodero

SINOPSE – Perdido e ferido no meio de uma vila perto da Sicília, Robert McCall acaba tendo que enfrentar as ações violentas da Camorra na pequena cidadezinha.

Trailer do Filme: Protetor: Capítulo Final

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