Existem duas pequenas obrigações em Rua do Medo: 1966 – Parte 3: De um lado precisa contar mais uma história de terror, de outro precisa fazer isso enquanto termina essa história maior e faz com que todas peças se encaixam. Como não são tantas expectativas para que nada seja tão estupendo assim, esse terceiro filme funciona, mas só porque não tem nada melhor para fazer.
Como o título sugere, grande parte do filme está lá no século 17 em uma pequena vila de peregrinos. Para quem viu os outros filmes (1994 e 1978), sabe que a protagonista do primeiro acabou sendo transportada para esse lugar para presenciar a verdadeira história da bruxa Sarah Fier. Como é de se esperar ela não é tão bruxa assim, assim como todas aquelas mulheres assassinadas pela mesma razão durante séculos de misoginia e ignorância religiosa. Mesmo com um fundo sobrenatural, esse recado está nesse terceiro filme. O que é sempre válido.
A ideia que move a trama acaba não sendo muito criativa à primeira vista, principalmente, por já ter discutido parte desse assunto no primeiro filme. Portanto, sem medo de se repetir, o filme consegue focar em um lado muito mais emotivo e profundo da descoberta do amor entre as personagens. É lógico que isso pode parecer uma simples repetição de uma ideia, mas funciona bem como estopim para os acontecimentos que realmente importam e a verdade por trás da tal maldição.
Mais do que nunca o roteiro é didático e consegue realmente explicar as motivações por trás do mistério, por mais que a conclusão mais importante pareça surgir de lugar nenhuma na cabeça da protagonista. Esse erro depois acaba sendo corrigido na hora de finalizar a história toda em “Rua do Medo: 1994 – Parte 2”.
Sim, como era de se esperar, a trama volta mais uma vez para terminar o que deixou aberto no primeiro filme, mas dessa vez de modo oficial e até com título. Seria uma surpresa se isso não acontecesse, já que o ponto a ser discutido no filme está nesse momento temporal, com o resto só servindo para compor a história desse primeiro filme. A vontade de contar três histórias e homenagear três tipos de subgêneros diferentes é maior do que as questões mais práticas de de criar um filme só com dois pequenos flashbacks resumindo tudo e todas surpresas. E isso nunca se torna um problema, já que os três filmes cumprem o que prometem e são passatempos divertidos e caprichados.
Enquanto o segundo tem mais pudores, o terceiro não esconde uma igreja cheia de crianças mortas e muito menos deixa de fora uma tensão menos plástica, mas muito mais visceral e realista. É lógico que repousa sobre conceitos esotéricos e (digamos assim…) “demoníacos” muito mais expostos, mas como não parece ter a mínima vontade de ser crível, acaba não impressionando muito os mais jovens. Mas o clima de sacrifício e “satanic panic” faz as vezes de criar uma situação incômoda por ser real demais. Dito isso, um encantamento que se resume a ficar repetindo os vários nomes do “Coisa Ruim” é de uma preguiça tão risível que acho que o cinema nunca viu tamanha bobagem.
Mas esqueça a credibilidade e deixe de ser chato. Rua do Medo: 1666 está aí para completar a história de um jeito minimamente criativa e ainda mostrar mais dos “assassinos de Sarah Fier” em ação, tanto em seu tempo, quanto indo até 1994 para “terminar o serviço”. Fica ainda aquela impressão de que há boas histórias a serem contadas envolvendo essas matanças e a possibilidade de ver em ação os quatros “monstros” que não têm suas histórias contadas (“The Grifter”, Billy Barker, O Leiteiro e Ruby Lane).
Com isso em mente, Rua do Medo: 1666 não só cumpre as expectativas que têm em mãos de contar uma boa história e ainda fechar a trilogia, como demonstra que é possível manter o interesse dentro dessa mitologia e, quem sabe, abrir as portas para que mais “Ruas do Medo” ganhem as telas.
“Fear Street:1666 – Part 3” (EUA, 2021); escrito por Leigh Janiak, Kyle Killen e Phil Graziadei, a partir da série de livros de R.L. Stine; dirigido por Leigh Janiak; com Kiana Madeira, Benjamin Flores Jr., Julia Rehwald, Fred Henchinger, Ashley Zukerman, Maya Hawke e David W. Thompson, Randy Havens, Michael Chandler, Sadie Sink, Emily Rudd, McCabe Slye e Gillian Jacobs