Quando o primeiro Divergente terminou, Shannon Woodley ainda era aquela menininha indicada ao Oscar por Os Descendentes, assim como Ansel Egort era o “cara do remake da Carrie”, logos depois ambos se tornaram as estrelas de A Culpa é das Estrelas. Ao lado deles, Miles Teller era um cara meio boboca que tinha feito um monte de besteiras como Finalmente 18, mas hoje é o “rapaz do Whiplash” (trabalho que só não lhe rendeu uma indicação ao Oscar por pura miopia da Academia). Bom, Theo James continua sendo “um desconhecido” e Kate Winslet provou que precisava pagar aluguel.
Enfim então temos Série Divergente: Insurgente, e ainda que tudo aquilo tenha mudada na vida de seu elenco, por aqui nada mudou. Na verdade isso pode té ser um exagero, já que muita coisa mudou sim. Mudou para melhor, mas a situação era tão ruim que o melhor ainda está longe de ser suficiente para que isso se torne um elogio.
De cara a principal diferença que se vê é a presença de Robert Schwentke no lugar do fraquíssimo Neil Burger. Mesmo sendo mais conhecido por besteiras como Plano de Voo e R.I.P.D., o novo diretor também é creditado pelo divertido RED: Aposentados e Perigosos, e em “Insurgente” parece se esforçar o suficiente para que o filme tenha uma identidade visual muito mais interessante, assim como composições menos acéfalas. Mas repetindo, talvez a expectativa fosse tão baixa que ser conquistado por alguns planos mais longos e um ou dois plongees fica bem fácil.
Até por que, talvez o problema de Isurgente nem passe perto da direção. De um lado, a dupla de roteiristas do primeiro filme é jogada para escanteio e em seu lugar quem fica com o texto são dois escritores acostumados a produções maiores. Akiva Goldsman tem seu Oscar por Uma Mente Brilhante, mas fora isso tem tanta coisa em seu currículo (tantas centenas de milhões de dólares em bilheterias) que é fácil imaginar que o esse segundo filme se tornasse mais pasteurizado. Uma embalagem que ainda conta com as mãos do igualmente experiente Mark Bomback (na verdade um trio, que é completado pelo estreante Brian Duffield).
Para começo de conversa, o filme só ganha em ritmo com essas mudança, e deixa de ser entediante e óbvio (como o primeiro), mas por outro lado, ele exala uma vontade de sumir na multidão que persegue (principalmente) a carreira dos dois roteiristas mais experientes. Como se tudo estivesse demais no lugar, o suficiente para eles lhe contarem apenas os pedaços das histórias que querem. Portanto personagens ficam esquecidos de lado até que tenham a oportunidade de fazer uma entrada dramática, assim como conversas casuais não se importam de serem interrompidos por surpresas, tiros e correrias. Não existe tempo para muita coisa em Insurgente.
Sorte da trama, que se permite ser rasa, com os sobreviventes do primeiro conseguindo se esconder em uma outra facção, até que a vilã Jeanine (Winslet, depois de explicar como funciona aquele mundo para quem não viu o primeiro) descobre o paradeiro de uma caixa misteriosa que promete resolver seus problemas revolucionários e ver o “status quo” ser restabelecido. Mas como o filme precisa de mais uma hora e meia de duração, o único jeito de abrir essa caixa é através de um divergente, a é fácil avinhar quem acaba sendo a única divergente que conseguirá ter força o suficiente para passar pelos testes da caixa e abri-la.
Tudo bem fácil de servir de desculpa para que esse estado autoritário foque todas suas forças em varrer toda a cidade (leia-se dentro dos muros) em busca de divergentes para serem usados de cobaias. No final das contas essa simplicidade até ajuda, já que não falta ação e o monte de diálogos provavelmente ruins, acabam dando lugar a sequências muito mais movimentadas.
É claro que esse pretexto todo só existe para que a heroína Tris (Woodley) passe novamente por esse monte de simulações onde “Insurgente” deixa claro onde gastou cada dólar com efeitos especiais (na maioria digitais), mas a desculpa para chegar até ai é tão forçada que não consegue permanecer dentro do mundo um tanto quanto pragmático que o filme tenta criar. Uma espécie quase de misticismo, que é verdade acaba se transformado em um subterfúgio que o R2-D2 já usava um bom tempo atrás e acaba se encaixando dentro do resto, mas até lá, devia demais a atenção do espectador que estava se divertindo até aquele momento.
E um outro fator que desvia a atenção de todos é o péssimo trabalho do casal principal, Woodley e James. E isso fica mais claro ainda enquanto eles precisam contracenar com Elgort e Teller, que para a sorte dos dois ficam de lado dentro da história, do contrário roubariam o filme para eles (como o fazem em cada momento que lhes é dado, principalmente Teller). “Insurgente” ainda conta no elenco com a sempre ótima Winslet e agora também com Naomi Watts, mas as duas parecem mais preocupada em receber logo seus cheques e irem embora para algo mais pertinente.
Não que Insurgente não seja “pertinente”, principalmente para os fãs dos livros, o filme deve ser um deleite, mas para o resto continua sendo uma espécie de pastiche de tanta outra coisa que vem sendo adaptada para o cinema direto da literatura “young adult” que é impossível não pensar o quanto é muito melhor sair de casa para ver Jogos Vorazes do que para dar de cara com seu “primo distante” e menos interessante.
“Insurgent” (EUA, 2015), escrito por Akiva Goldsman, Brian Duffield e Mark Bomback, à partir da série de livros de Veronica Roth, dirigido por Robert Schwentke, com Kate Winslet, Jai Courtney, Mekhi Phifer, Shailene Woodley, Theo James, Ansel Elgort e Miles Teller