[dropcap]S[/dropcap]emana passada, muita gente foi pega de surpresa com o trailer dos Novos Mutantes. Tanto porque a produção parece ter sido feita sem alarde, quanto pelo trailer apresentar um filme de terror. E ai veio a pergunta de um milhão de dólares: “Mas não é um filme de super-heróis? Como pode ser de terror?”.
A resposta vale muito menos do que isso, principalmente, pois ela é óbvia e até meio preguiçosa: Pode tudo.
Primeiro, porque não existem “filmes de super-heróis”. Tudo bem é uma afirmação polêmica, mas acho que você vai entender.
Existem filmes e existem super-heróis. Indo um pouco mais fundo, a definição de “super-heróis” passa pela ideia de personagens fantásticos, com suas capas, poderes, cuecas por cima da calça, problemas com os pais e a mesma letra no começo dos nomes.
Trailer Os Novos Mutantes
Já os filmes, podem ser de diversos gêneros. Curiosamente, assim como os quadrinhos (de onde vêm os tais super-heróis).
Desde sempre nem as HQs estiveram presas a essas conveniências, e talvez seja isso que tenha salvado elas nos anos 80 com a Vertigo da DC (pergunte para qualquer nerd que ele irá te explicar isso). E talvez seja isso que vá salvar os “filmes de super-heróis”.
Entre aspas, já que isso se tornou uma conveniência que beira o gênero. Assim como os “filmes policiais”, “faroestes” e “ficções científicas”. Todos eles são gêneros, mas podem ser transmutados em tantas outras possibilidades que qualquer coisa passa a ser válida.
Falei sobre isso no Twitter assim que coloquei os pés para fora da sessão de Logan (mais precisamente nesse gorjeio aqui). E agora vendo o trailer de Novos Mutantes isso novamente me vem à mente. E se você não clicou no link da linha de cima, eu te explico novamente.
Logan não é um “filme de super-herói”, mas um faroeste moderno onde mais parece que, já com o roteiro pronto, foi inserido os mutantes, garras e ciborgues. E se você já tinha visto essa história em algum lugar, com um “cara fodão” (já me desculpando pelo palavreado) ajudando alguma criança a sair do “ponto A” e chegar no “ponto B” enquanto um vilão os persegue, é por que essa história já foi contada de tantas maneiras e usando tantos cenários que não vale a pena citar todas (fica aqui um abraço para o Exterminador do Futuro 2).
Isso só acontece, pois o que menos importa ali são os poderes. Logan é um filme sobre personagens em uma situação específica e não apenas um cara vestindo um uniforme tentando bater em outro. Não que isso seja um problema, X-Men: Primeira Classe faz isso de modo incrível, assim como James Gunn com seus Guardiões da Galáxia continuam dando um show.
Christopher Nolan já tinha feito algo parecido com o Batman em Cavaleiro das Trevas, que só é “de super-herói” porque tem o esquizofrênico preferido de Gotham City vestindo sua roupa de morcego, todo o resto poderia estar em um policial qualquer onde um criminoso maluco decide criar o caos em uma cidade (“com um tira qualquer em uma cruzada para acabar com esse vilão”).
Capitão América: O Soldado Invernal estava tão preocupado em ser um thriller de espionagem que precisou apelar no final para o grande porta-aviões da SHIELD para lembrar seu público de ainda estar em um “filme de super-herói”.
Já Os Novos Mutantes, ao que parece, é um terror. Onde esses jovens estão dentro de uma espécie de clínica e coisas estranhas começam a acontecer (outro abraço para A Hora do Pesadelo 3).
A questão é que, ou isso acontece, ou o tal “gênero de super-heróis” irá ser esquecido. Sim, quem salvará eles são os cineastas que entenderem que esses personagens não são um gênero, mas sim possibilidades infinitas. É lógico que aqueles uniformizados se batendo ou a Warner dando pesadelos aos fãs de quadrinhos não acabará, e será isso que continuará movendo a indústria a procurar mais e mais histórias a serem adaptadas. Mas não tenho dúvidas que os filmes que serão lembrados daqui a alguns anos não serão nem BvS nem Os Vingadores, mas sim quem não parecia ser “só um filme de super-herói”.
Infelizmente, quase sempre isso é uma faca de dois gumes, já que nas HQs nem sempre esses mesmos personagens tiveram a mesma sorte, então é fácil que para construir seja preciso antes de tudo destruir. Seus personagens dos gibis talvez tenham que sofrer mudanças e darem um passo atrás antes de alguns para frente, o que deixa os fãs alvoroçados pedindo por uniformes amarelos e desafios cósmicos.
E isso acontece, porque nem todos os personagens nas páginas de papel tiveram a sorte de passarem pelas mãos dos autores certos que desafiassem as grandes editoras a tirarem suas revistas da mesmice genérica. Heróis como Demolidor, Justiceiro, Batman e Capitão América já tiveram essa sorte, por isso ficou fácil arrancar eles dos “filmes de super-heróis” (e nesse caso, séries também), mas bastiões como Vingadores, mutantes em geral e os “Deuses” da DC, quase sempre são “tocados” dentro do status quo nas HQs. O que torna mais difícil ainda que alguém aposte nesse no cinema fora desse “esquemão”.
Novos Mutantes parece estar prestes a fazer isso (eles serem uma “equipe menor” ajuda com o desprendimento) e se conseguir, talvez abra um espaço maior ainda para mais gente se aventurar nisso. Pelo menos é isso que todo fã de quadrinhos sonha (isso e um filme da Liga da Justice que preste).