Seguindo o padrão do texto de Terrifier: O Início, não deveria hesistir pudor nenhum de escrever sobre filmes como esse Terrifier 2 com preocupação de não deixar escapulir alguns spoilers, afinal, ninguém tem que ser obrigado a assistir filmes doentios assim sem ser de livre e espontânea vontade.
Depois do segundo lançamento de Terrifier, em 2019 – o lançamento original tinha sido em 2016 – a resposta do público (infelizmente) animou o realizador Damien Leone a buscar nova campanha de financiamento coletivo para fazer uma sequência. Novamente alcançou sucesso e quase que quadriplicou a meta original (para o azar de muita gente).
Com o coração peludo animado e quentinho, Leone lançou esta sequência, que amplia e expande o universo do seu personagem (atlvez alter ego), Art, O Palhaço, e faz isso dobrando a aposta no sentido de cenas chocantes e recheadas de gore para deleitar sua bolha de fãs sanguinários.
E não se enganem, isso é fruto de um nicho bem específico e nem de longe justifica todo o hype criado. As histórias de gente desmaiando e passando mal nas sessões são verdadeiras, mas representam os desavisados que foram ao cinema sem muita noção do que estavam realmente indo ver.
Com um orçamento estimado de US$250 mil e faturamento de US$ 15 milhões, embora considerável, nem chega perto de ser um fenômeno do gênero como Bruxa de Blair ou Atividade Paranormal. O filme conversa com pessoas nas fronteiras do sadismo e só.
Uma crítica recorrente ao primeiro filme foi a falta de desenvolvimento dos personagens, o que causou a duração saltar de suportáveis uma hora e vinte minutos para mais de duas horas, o que passa por “desenvolvimento” aqui é uma colcha de retalhos de ideias jogadas a esmo.
O que se pode juntar é que Art é um avatar de alguma entidade maligna e que está no limiar entre o mundo físico e o sobrenatural, também que o pai da heroína Sienna meio que, durante o período final de um tumor cerebral, previu a existência e que a filha seria o instrumento para finalizar o palhaço de alguma maneira, envolvendo toda a família no processo.
Enfim, talvez seja isso.
Começando exatamente onde o primeiro terminou, Art ressuscita no necrotério depois de ter se suicidado com um tiro na cabeça e faz sua primeira vítima, o legista. Pegando para si um globo ocular e parte do crânio, o anti-herói sai andando com sua roupa e inseparável saco preto de lixo, fazendo uma parada na lavanderia para ficar apresentável para as próximas cenas de assassinato e matando mais um idiota, que ficou estático vendo aquele ser pelado, lavando roupa e brincando com uma suposta criação da mente do assassino, uma menina (ao longo do filme, vai ficando mais claro que essa garota tem existência própria e separada de Art).
Logo depois, somos apresentados para Sienna (Lauren LaVera), Jonathan (Elliott Fullam) e Barbara (Sarah Voigt), uma família que luta para se recuperar da perda do pai e marido. Sienna é uma cosplayer que cria uma fantasia de guerreira para o Halloween e Jonathan gosta de pesquisar sobre serial killers e quer usar a roupa de Art para desespero da mãe.
Aos poucos, Sienna percebe que Art a está seguindo, depois de ter um pesadelo com o palhaço. Jonathan também sente essa perseguição e o assassino vai fechando o cerco contra Sienna e Jonathan, matando praticamente todos que os cercam, até um confronto final em um parque de diversões abandonado.
Depois de muito sofrimento, Sienna consegue, com uma espada “mágica” que foi criada pelo pai, reviver e decapitar Art. A cabeça do palhaço, então, é recolhida pela garotinha que o acompanhava nos assassinatos e os dois desaparecem.
Os intervalos entre as cenas de assassinato, todas brutais, são preenchidos com essa trama de fundo meio doida e muita atuação ruim. Por onde Sienna passa, Art vai em seguida e detona alguém.
Embora nesta sequência o diretor mostre que os homens também são brutalmente despachados pelo palhaço (temos pancadas impiedosas até virar carne moída, olhos arrancados, decapitações e castrações, além de tortura de adolescentes), Leone deixa muito claro que possui um pedaço especial no coração peludo de ódio contra as mulheres. Elas sofrem as piores atrocidades que você verá, além do roteiro dotá-las de uma resistência sobre-humana, pois são mutiladas e torturadas sadicamente e continuam milagrosamente vivas para poderem sofrer mais.
O assassinato da amiga de Sienna, Allie (Casey Hartnett) é extremo, ela é mutilada, torturada e desmembrada, mas ainda estava viva enquanto tinha suas pernas cortadas para poder chamar sua mãe – foi essa cena que causou os incidentes de pessoas passarem mal e serem retiradas da sala de cinema. Esta vira mais uma vítima e tem a cabeça decepada e esvaziada, virando pote para guardar doces de Halloween para Art dar a crianças que batem na porta.
A outra amiga de Sienna, Brooke (Kailey Hyman), toma ácido no rosto, pancadas no joelho, cabeça e costas e tem o peito aberto na porrada, além de ter o coração arrancado e comido por Art.
A mãe de Jonathan e Sienna tem o rosto estourado por um tiro de escopeta. Para deixar Jonathan ainda mais desesperado, o palhaço serve um jantar e enfia brutalmente uma mão cheia de purê de batatas na massa sangrenta que era a face da mãe.
Em cena pós-créditos, a sobrevivente do filme anterior, que tinha atacado brutalmente a entrevistadora de um programa de TV, sangra copiosamente pela vagina (a menina-palhacinha também já tinha sangrado assim na cena da lavanderia) e usa o sangue para escrever insultos nas paredes e, sabe-se lá como, fica grávida e tem um parto. A enfermeira entra na cela dela e o “filho” é a cabeça de Art, que sorri para a platéia e acaba, finalmente, o filme.
Obviamente, com o faturamento alcançado, Leone já anunciou que teremos uma parte 3 e quiçá uma 4, pois existe ainda muita possibilidade de praticar atrocidades e nojeiras com corpos femininos. Em suma, um filme bem escroto, longo demais e que não agrada ninguém além de pessoas nas fronteiras de alguma perturbação mental e sádicos em geral.
